Deputado Eduardo Cunha tem maior derrota em 13 anos na Câmara dos Deputados

goo.gl/9FqFVu | A notícia de que o ministro do Supremo Teori Zavascki suspendeu Eduardo Cunha do mandato de deputado federal e o afastou da presidência da Câmara fez, desta quinta-feira (5), um dos dias mais agitados desde o início da crise política desencadeada pelas investigações da Operação Lava Jato.

A medida cautelar do ministro Teori foi aprovada por unanimidade horas depois pelo plenário do Supremo Tribunal Federal e teve repercussão enorme nos três poderes da República, em Brasília, e na imprensa internacional.

Eduardo Cunha começou sua vida pública no governo Collor. Foi nomeado presidente da Telerj, estatal de telecomunicações no Rio, em 1991, onde ficou por dois anos. Ele se autodenomina o responsável pela implantação da telefonia celular no Brasil. Na Telerj, foi alvo de sua primeira suspeita na vida pública: fraude em licitações.

Em toda a década de 90, ele concentrou sua atuação no Rio. Em 1999, assumiu a presidência da Companhia Estadual de Habitação. Se licenciou depois de denúncias de irregularidades em licitações.

Pelo voto, Eduardo Cunha começou a vida política em 2001 como deputado estadual do Rio. Na Câmara dos Deputados, foi eleito pela primeira vez em 2003. Está no quarto mandato.

Eduardo Cunha conseguiu protagonismo nacional com suas manobras políticas e os embates públicos com o governo.

Conhecedor do regimento, ele atuou para acelerar e atrasar votações na Câmara, muitas contrariando os interesses do governo - um poder que atraiu deputados de vários partidos para seu entorno político. Assim, Cunha tinha apoio e votos.

Esse trabalho rendeu a ele a liderança do PMDB, a segunda maior bancada na Câmara em 2013. No ápice da crise com o Palácio do Planalto, ele anunciou, em julho de 2015: "Me considero com um rompimento pessoal com o governo".

No cargo, construiu a ponte para a cobiçada Presidência da Câmara. Venceu o candidato do Palácio do Planalto, Arlindo Chinaglia, do PT, em fevereiro de 2015. A eleição dele foi uma derrota do Palácio do Planalto.

Em março de 2015, a Lava Jato se aproximava dele com a investigação de um requerimento feito na Câmara. Segundo as investigações, o pedido era uma forma de fazer pressão para cobrar o pagamento de propina.

Foi o que revelou o empresário Júlio Camargo, que entregou Cunha em julho de 2015, descrevendo a cobrança que o presidente da Câmara fez em nome do operador Fernando Baiano.

A partir daí, Cunha reforçou a estratégia de atacar para se defender. Brigar publicamente, na frente dos microfones, virava rotina. A Lava Jato avançava e com novas provas.

Em agosto, Eduardo Cunha foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República por corrupção e lavagem de dinheiro. A acusação: receber propina de US$ 5 milhões desviada de contrato da Petrobras.

Em outubro, o escândalo das contas da Suíça - aquelas que ele jurou, na CPI da Petrobras, que não tinha. A TV Globo revelou fotos e documentos dele e da família na abertura das contas. E também a delação mais contundente contra ele, a do operador Fernando Baiano, que revelou em 2015 entregas de dinheiro vivo. O próprio Baiano disse que levou entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão ao escritório de Cunha no Rio, em outubro de 2011.

Em novembro, o Conselho de Ética abriu o processo por quebra de decoro. Na mesma semana, Cunha decidiu falar sobre as contas na Suíça numa entrevista exclusiva. "Não, eu não sou o dono do dinheiro, não. Eu sou usufrutuário em vida, nas condições determinadas", disse na época.

Para a Procuradoria-Geral da República, Cunha era, na verdade, o titular das contas. E como atuou para atrapalhar as investigações, o procurador Rodrigo Janot pediu, em dezembro, o afastamento dele da Presidência da Câmara.

A todas as derrotas na Lava Jato, Eduardo Cunha reagia com anúncios políticos. Foi assim quando rompeu com o governo em julho, e foi assim também depois desse pedido de afastamento do Ministério Público. Na semana seguinte, Eduardo Cunha anunciou que estava aberto o processo de impeachment contra Dilma Rousseff.

A Câmara passou semanas discutindo quase que exclusivamente o pedido de impeachment. Aliados elogiavam publicamente a celeridade de Cunha, que também experimentou sua própria rejeição.

A indignação com as manobras de aliados dele no Conselho de Ética só aumentava. Teve troca de tapas, troca de relator, entrada de aliada que poderia reverter o placar a favor de Cunha, restrição das investigações.

Já é o mais longo processo na história do Conselho de Ética. Manobras da tropa de choque também fora do conselho. Na vice-presidência da Câmara, seu aliado Waldir Maranhão, do Partido Progressista, tomou decisões que causaram reviravoltas, atrasaram ainda mais o processo no conselho.

Fora da Câmara, Cunha enfrenta uma fila de investigações: é réu por recebimento de propina na Lava Jato, também foi denunciado por ter dinheiro em contas secretas na Suíça, é investigado em mais três inquéritos no Supremo. Além dessas cinco frentes, ainda é alvo de mais três pedidos de investigação, podendo chegar a oito procedimentos.

Agora, Cunha assiste à sua maior derrota após 13 anos na Câmara dos Deputados. Nos bastidores, deputados avaliam que ele se transformou em um político que confundiu poder com manipulação, estratégia com manobra.

A avaliação de parlamentares é de que ele se perdeu ao não enxergar os próprios limites.

Fonte: g1 globo

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