Os jovens não se dão o direito de errar e aprender, querem chegar logo ao topo

goo.gl/1e1p88 | Dois alunos me disseram que estão desistindo do curso de Jornalismo, no terceiro semestre. Sugeri que tentassem mais um pouco, porque talvez mudassem de ideia com a chegada de mais disciplinas práticas e saídas de campo. Geralmente eles se sentem mais próximos do mercado de trabalho e se empolgam novamente. Um deles me disse: "Mas professora, a gente não tem tempo a perder. Não dá pra ficar enrolando".

Não sei, afinal, se eles largaram o curso ou não, porque não os vi desde então. Mas aquelas palavras me deixaram pensando muito sobre o assunto. Jovens de 20 anos dizem que não têm mais tempo a perder. Querem tudo para ontem – e, de preferência, que não dê muito trabalho. Esse imediatismo, claro, gera muita frustração. Dias atrás me perguntaram quanto tempo de RBS eu tenho. Quando respondi que estou completando 20 anos em 2017, a moça largou um "nossa", como se fosse uma coisa de outro planeta.

Isso acontece porque eles, os jovens, não pensam em "esquentar a cadeira" em emprego nenhum. Não existe mais essa de fazer carreira num determinado lugar. O lugar, agora, é o mundo. E a maioria não sonha mais com um emprego formal, desses de carteira assinada.Estão errados? Claro que não, o mundo mudou e as possibilidades hoje são infinitas, muito diferente de quando eu comecei a trabalhar, há mais de 30 anos.

Só o que me preocupa é essa necessidade extrema de "dar certo" e "fazer sucesso" que observo na maioria dos jovens com os quais convivo, especialmente na universidade. Eles não se dão mais o direito de aprender, errar, começar de novo, subir degrau por degrau. Têm que chegar logo ao topo – e quando chegar lá, já vislumbrar outro posto ainda mais alto. Querem ser jornalistas? Sim, mas ricos e famosos e, de preferência, logo que começar a trabalhar.

Os alunos da publicidade não são diferentes, e muito provavelmente nem os do direito, da medicina, da arquitetura... O problema é que o provérbio está certo: quanto maior a altura, maior o tombo. Quando notam que os planos não vão se realizar (pelo menos alguns deles), muito jovens ficam frustrados, pensam em largar tudo e a autoestima vai lá em baixo.

Sentem-se perdedores, pois vivem em uma época em que só o que importa é vencer (e mostrar para os outros que chegou lá). É preciso ensinar urgentemente a essa meninada que ''dar certo na vida'' é muito mais do que ter dinheiro, fama e poder, e envolve sentimentos muito mais profundos e verdadeiros.

Por Viviane Bevilacqua
Fonte: dc clicrbs

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