Enxurrada de vagas: a abertura de concursos públicos vai realmente disparar em 2018?

goo.gl/67KMqf | Depois de anunciar que os concursos públicos estariam suspensos em 2016 e 2017, devido a rombos milionários nas contas públicas, o ministério do Planejamento declarou no fim de outubro que o governo voltará a organizar processos seletivos em 2018.

É motivo para comemorar a volta das oportunidades na carreira pública — ou temer pela explosão da concorrência no ano que vem?

Os anúncios do governo devem ser tomados com cautela, na interpretação de Marco Antônio Araújo Júnior, presidente da Anpac (Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos) e diretor do Damásio.

“São discursos de teor fortemente político”, diz ele. “No momento em que anunciaram a suspensão dos concursos, queriam mostrar para os investidores que o governo estava apertando o cinto, que estava sendo responsável; agora, querem transmitir o recado de que o país está superando a crise”.

O diretor do Damásio argumenta que, apesar do anúncio da suspensão, na prática os processos seletivos continuaram acontecendo ao longo de 2017. De forma geral, a única diferença foi que o número de vagas abertas foi menor do que o normal.

Embora a fala do ministro tenha mais significado político do que prático, diz Araújo, ela reforça uma perspectiva positiva (e real) para aspirantes a servidores: o universo dos concursos tem tudo para estar mais aquecido em 2018.

Enxurrada de vagas

Viviane Rocha, pedagoga e professora de técnicas de estudo na Central de Concursos, também acredita que os órgãos públicos abrirão mais oportunidades no ano que vem.

“Atuo nesse universo desde 1994 e já percebi que sempre há uma enxurrada de vagas após um período de contenção”, explica ela. “A tendência é que os concursos voltem a acontecer corriqueiramente”.

A expectativa é reforçada pelo fato de que seleções tradicionais, como da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal, estão atrasadas — e tudo indica que devem acontecer no próximo ano. É também o caso da Receita Federal, que não abre vagas desde 2014 e precisará repor servidores que faleceram ou deixaram seus cargos.

Araújo lembra que a perspectiva da reforma da previdência levou muitos profissionais a antecipar a aposentadoria. “Hoje se estima que 40% dos servidores vão se aposentar”, explica o presidente da Anpac. “Esse movimento de saída acabará abrindo oportunidades para novos ingressantes”.

Vanessa Pancioni, gerente acadêmica da LFG, também acredita na abertura de novas vagas no serviço público como uma medida para conter o desemprego.

“Em muitas cidades brasileiras, a maioria da população trabalha para a máquina pública, principalmente no âmbito municipal”, explica ela. “O governo pode abrir concursos como uma forma de garantir emprego”.

Vale lembrar que a ideia de que concursos não podem ser abertos em ano eleitoral, como será o caso de 2018, não passa de mito. “A única restrição se refere à posse, isto é, quem prestar concurso três meses antes da eleição só poderá tomar posse no ano seguinte”, explica o presidente da Anpac.

As indefinições do cenário eleitoral para o ano que vem, na visão de Araújo, também não devem preocupar os concurseiros. “No Brasil, a máquina no estado é relativamente desvinculada da política, a não ser para cargos comissionados”, diz ele. “Independentemente de quem ocupar a cadeira da presidência, as seleções devem continuar acontecendo”, diz ele.

A explosão dos “paraquedistas”

Para o começo de 2018 estão previstas seleções bastante aguardadas, como da Advocacia Geral da União (AGU), Ministério Público da União (MPU), STF (Supremo Tribunal Federal) e STJ (Superior Tribunal de Justiça). São concursos difíceis — e a concorrência deve ser especialmente acirrada.

Segundo Araújo, a percepção de que a reforma trabalhista pode prejudicar a estabilidade de quem trabalha na iniciativa privada provavelmente levará a uma corrida por empregos públicos. “O número de inscritos deve disparar, mas a maioria será composta de ‘paraquedistas’, pessoas que nunca prestaram concursos e não estão bem preparadas”, diz ele.

Para Rocha, a explosão da concorrência não deve assustar o concurseiro experiente, porque a taxa de absenteísmo (proporção de candidatos que faltam à prova) está em ritmo ascendente no Brasil. “Só para citar um exemplo, 53% dos inscritos no concurso da Receita Federal não compareceram ao exame”, diz ela.

Além de faltarem, muitos candidatos não estão em condições reais de disputar uma vaga. De acordo com professora da Central de Concursos, a proporção média de pessoas com chances de concorrer gira entre 3% e 5% para os concursos mais cobiçados. “Não há uma tradição de estudo no Brasil, então muita gente chega despreparada para as provas”, explica ela.

Ainda assim, diz Pancioni, cada vez mais pessoas estão adquirindo a consciência de que concurso público é um projeto de longo prazo, que exige dedicação. “O candidato tem cada vez mais acesso ao estudo e está se qualificando mais”, afirma.

A melhor forma de enfrentar a concorrência em 2018 é investir em preparação contínua. Quem parou de estudar por causa da desaceleração dos concursos nos últimos anos terá menos chances.

“Não espere o edital sair para começar a se preparar”, aconselha Rocha. “Quem manteve o ritmo de estudos acelerado tem grandes chances de ser aprovado em mais de uma seleção, e até ter a chance de escolher qual vaga vai acabar aceitando”.

Por Claudia Gasparini
Fonte: Exame Abril

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