Ortografia na advocacia: Crase - O guia definitivo para advogados e estudantes de Direito

goo.gl/WSnaJm | Há diversas técnicas utilizadas para se saber se há ocorrência de crase, ou não, se deve ser aplicado o acento grave ou não.

Primeiramente é acento e não assento, porque acento vem do latim accentus e assento vem do verbo sentar, do latim sedeo.

Em segundo lugar, crase é um fenômeno linguístico e não uma acentuação gráfica. O acento gráfico é o grave, que é o acento indicativo de crase.

Apenas na definição do que se trata o fenômeno linguístico da crase nós já conseguimos entender muito sobre sua aplicação.

Crase significa fusão, é um metaplasmo na língua portuguesa, ocorrido pela fusão entre a preposição a e o artigo definido feminino a. Pode ocorrer no plural e com alguns pronomes como “àquele”, por exemplo.

Como envolve artigo definido no feminino, então podemos concluir que não existe crase antes de expressões no masculino. No masculino ocorreria uma fusão entre a preposição e o artigo masculino, grafando-se “ao”. Outros casos de fusão que ocorrem é da preposição de com os artigos, podendo ser desde “da”, “do”, até “duma” e “duns”, que é aceito pela norma culta. A diferença é que nesses casos não existe a adição de acento grave. Assim sendo, o acento grave é uma espécie de acento diferencial, ou acento indicativo, não sendo pronunciado com mais ênfase, nem alongada a pronúncia da vogal.

Quando você ler um texto que tenha crase, você deverá pronunciar tal passagem como se fosse uma letra a, normal, sem acentuação. Veja os exemplos:

Forma escrita: “O suspeito, após o crime, voltou à casa”.

Pronúncia errada: “O suspeito, após o crime, voltou a a casa”.

Pronúncia correta: “o suspeito, após o crime, voltou a casa”.

Assim mesmo, pronunciando-se o a como se fosse apenas um artigo definido, ou então, a crase não teria razão de ser, posto que sua função seja, justamente, indicar a ocorrência dessa fusão.

Alguns verbos pedem um complemento, são os verbos transitivos indiretos. Parece complicado, mas não é. Na dúvida, basta dar uma olhada no dicionário, procurando o verbete, a acepção e conferindo se se trata de Transitivo Indireto, direto, ou intransitivo. Vou dar alguns exemplos:

(Clique sobre a imagem para ampliá-la)

EDIT: Importante - Verbos transitivos indiretos não se dão bem com a voz passiva, por isso evite - Exemplo: você é muito gostada por mim (voz ativa - Eu gosto muito de você), o programa foi assistido pela minha esposa (voz ativa - minha esposa assistiu ao programa), o trajeto foi ido por nós dois (voz ativa - nós fomos pelo caminho - opção pela voz ativa, mudar o verbo ir por fazer).

O verbo assistir é muito interessante porque ele possui várias acepções diferentes, uma sendo transitiva direta, outra indireta e outra, ainda, intransitiva.

Se eu falo que eu assisti à palestra, então ocorre crase, deve ser colocado o acento grave, porque o verbo assistir, nessa acepção, requer o complemento, por ser verbo transitivo indireto.

Se eu falo que o médico assistiu a paciente enquanto ela morria, o médico não foi omisso, porque assistir, sem crase, significa prestar assistência. No entanto se eu escrever que o médico assistiu à paciente enquanto ela morria, nesse caso, o médico foi omisso, porque ficou passivamente assistindo a morte da paciente sem fazer nada.

Ocorre que há um macete muito simples para saber se há ou não a ocorrência de crase que é a seguinte:

Primeiro, ver se a expressão depois do verbo é no masculino ou feminino. Parece simples, mas há situações complexas, como “oito horas”, por exemplo. Oito é um número. Numerais normalmente são indicados como sendo masculino, suprimindo-se o termo, “número”. O (número) oito, o (número) um, etc. Por isso que eu indiquei que se trata de expressões, não de palavras. A expressão “oito horas” é feminina, porque se fala “as oito horas trabalhadas todos os dias”. Já os minutos são masculinos, porque “os quinze minutos de cafezinho não são suficientes para conversarmos sobre isso”.

Identificando uma expressão como feminina, basta tentar substituí-la por uma expressão masculina, se ocorrer a fusão da preposição a com o artigo definido masculino o, então requer acento grave. Cito exemplos.

Vou à Bahia – Vou ao Paraná. Ocorre crase

Verbas a título de – Título é masculino – NÃO OCORRE CRASE

A expressão à direita – A expressão ao centro. Ocorre crase.

Todas as quartas – Todos os sábados. NÃO OCORRE CRASE.

Eu vou às quartas – Eu vou aos sábados. Ocorre crase.

Faz jus a tais verbas – Faz jus a tais valores. NÃO OCORRE CRASE

Eu fui à casa – Eu fui ao mercado. Ocorre crase.

Arcar com as custas – Arcar com os valores. NÃO OCORRE CRASE.

Trabalhava das 9h às 17h – Trabalhava das 4 ao meio-dia. Ocorre crase.

A jornada ultrapassava as 10h – A jornada ultrapassava os 10min. NÃO OCORRE CRASE

Mas se não ocorrer uma substituição viável, se for difícil fazer tal substituição ou, por causa do cansaço mental do trabalho não conseguir um referencial adequado, você pode substituir a preposição a pela preposição “para” que também é fácil observar. Se após a preposição permanecer o artigo, então ocorre crase. Se o a já for artigo e não preposição e a frase não fizer sentido, ou não houver artigo após o "para", então não ocorre crase.

Citando os mesmos exemplos acima, mas com essa substituição:

Vou à Bahia – Vou para a Bahia. Ocorre crase

Verbas a título de – Verbas para título de – NÃO OCORRE CRASE

A expressão à direita – A expressão para a direita. Ocorre crase.

Todas as quartas – Todas PARA quartas. É ARTIGO, NÃO FEZ SENTIDO.

Eu vou às quartas – Eu vou para as quartas. Ocorre crase.

Faz jus a tais verbas – Faz jus para tais verbas. NÃO OCORRE CRASE

Eu fui à casa – Eu fui para a casa. Ocorre crase.

Arcar com as custas – Arcar com para custas. ARTIGO, NÃO FEZ SENTIDO.

Trabalhava das 9h às 17h – Trabalhava das 9h para as 17h. Ocorre crase.

A jornada ultrapassava as 10h – A jornada ultrapassava para 10 horas. ARTIGO, NÃO FEZ SENTIDO.

Interessante observar que quando a pessoa se dirige para uma casa qualquer que não a sua, ocorre crase, porque quem vai, “vai para a casa”, mas se a casa for do sujeito da frase, não ocorre crase, porque se eu vou/ele vai, “eu vou/ele vai para casa”, sem o artigo definido, apenas com a preposição.

Inclusive o próprio MS-Word sublinha de verde algumas expressões, mesmo estando certas, como “Eu fui à casa”, “Arcar com as custas” e “Eu vou às quartas”, sendo necessário conhecer a regra, porque o corretor ortográfico do Word não é 100% confiável.

Em primeiro lugar eu usei a estratégia da verificação pela substituição por uma expressão equivalente, mas masculina, porque, como visto, para substituir a preposição a por “para” é mais difícil.

Em três casos há ocorrência facultativa de crase:

Antes de pronomes femininos próprios, ou seja, antes de nome de mulheres. Ex. “Dirigi-me à Maria”. Muito embora o masculino disso fosse “Dirigi-me ao Mário”, no caso feminino o acento grave é facultativo.

Antes de pronomes possessivos (sua, tua, nossa, vossa, etc.) – Exemplo: Vá à sua casa. Muito embora o masculino disso fosse “vá ao seu apartamento”, no caso feminino o acento grave facultativo.

Quando ocorrer o emprego da preposição “até”, uma vez que essa preposição já pode omitir o uso da preposição a. Exemplo: “Vá até à sua casa”. O masculino poderia ser “Vá até o seu apartamento” ou "Vá até ao seu apartamento", sendo o acento grave é facultativo.

Está tudo muito simples até agora. Para complicar um pouco, há a ocorrência de crase antes de pronomes demonstrativos.

No caso dos pronomes demonstrativos a regra é a mesma, ou seja: um verbo transitivo indireto acompanhado da preposição respectiva seguida de um pronome demonstrativo iniciado pela letra a. Dessa forma, em vez de a crase ser a fusão da preposição a com o artigo definido feminino a, ela seria a fusão da mesma preposição com a letra a, com a qual se inicia o pronome. Cito exemplos:

Nós fomos àquela cidade. Nós fomos àquele Estado. Eu cantei a música àquela senhora. Ensinei o caminho àquele viajante.

Eu intercalei expressões masculinas e femininas apenas para deixar claro que quando estamos aplicando crase a pronomes demonstrativos, a regra do feminino não vale, porque não é fusão com artigo definido feminino, mas com a letra a com a qual inicia o pronome demonstrativo. Tanto isso é verdade que não ocorrerá crase com outros pronomes que não iniciam com a letra a, como esse, isso, este, isto. Nesses casos deve aparecer a preposição e o pronome. “fomos a esta cidade”; “fomos a esse Estado”; “cantei a música a este senhor”, “vim até aqui (a) para isto”.

Já a regra da substituição da preposição a pela preposição "para", aparentemente funciona melhor:

Nós fomos para aquela cidade. Nós fomos para aquele Estado. Eu cantei a música para aquela senhora. Ensinei o caminho para aquele viajante.

Assim sendo, quando estivermos diante de crase antes de substantivos, ou expressões no feminino, nós usamos a estratégia da substituição pelo masculino equivalente; quando estivermos diante do caso específico da verificação de crase em pronomes demonstrativos, nós usamos a estratégia da substituição da preposição a pela preposição "para".

Por Escrevendo Direito
Fonte: Jus Brasil

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