Advocacia iniciante: Carta aos jovens advogados - Artigo de Meryellen Teleginski

goo.gl/nC712b | Doutores, tenho visto suas lutas na advocacia, e seus desânimos. Gostaria de lhes relatar a minha singela experiência de 3 anos como causídica, visando atingir os que pretendem desistir do seu sonho tão almejado.

Vamos ao início. Fui bolsista integral na faculdade. Pegava 3 ônibus para poder chegar, trabalhava no shopping de domingo a domingo durante alguns anos de graduação, e no quinto ano de Direito cheguei a ter 3 estágios ao mesmo tempo. Nos estudos para a OAB imprimia as provas anteriores em um dos estágios e treinava, fazia simulados online e gratuitos nos cursinhos, e com muito esforço consegui passar na primeira fase.

Não tinha um Vade Mecum atualizado para a segunda nem tinha como comprar um. O cursinho tinha uma promoção que quem tivesse mais curtidas em uma foto divulgando o preparatório ganharia um Vade. Quase morri de pedir curtidas e todos os meus amigos e parentes ajudaram. Ganhei! Estudei 9h diárias, almoçava coxinha pra poder pagar o curso, continuei levando os estágios e no nono período conquistei minha aprovação no meu primeiro Exame de Ordem.

Foi o dia mais feliz da minha vida. Até hoje não tenho palavras para descrever o que senti em meio às lágrimas e pulos ao ver meu nome naquele edital tão sonhado.

Ouvi muitos comentários desanimadores sobre passar na prova, como todos vocês já ouviram. Os cães latiam e eu seguia meu caminho. Muitos engoliram seco a minha aprovação, mas eu só lembrava dos dias que eu esfregava chão de loja e que uma nova vida começava naquele momento.

Jurei, OAB 74.064. Dia igualmente inesquecível. Iniciei na advocacia com um dos advogados que eu havia estagiado. Acompanhei todas as audiências até eu sentir segurança de fazer sozinha. Absorvi todo o aprendizado que era possível. No atendimento, audiências, petições. Desatei os nós do medo e da insegurança.

Cada vez mais fui correndo atrás. Comecei a participar das Comissões da OAB, participei de diversos projetos, comparecia a todos os eventos e palestras que podia, via minicursos no Youtube. Aprendi a não ter medo de juízes nem de advogados antigos, e olhá-los como iguais depois de muito sofrimento.

Ganhei uma bolsa de pós-graduação na faculdade em que me formei, e daqui a 3 meses terei o título de Especialista em Direito Civil e Processo Civil. Sou extremamente grata pela oportunidade que tive, pois para uma advogada iniciante o custo de uma pós em valor integral era elevado.

Há pouco mais de 1 ano fui eleita presidente da Comissão dos Advogados Iniciantes da minha Subseção. Recebo os novos advogados no juramento. Tenho por missão guiar a todos nos primeiros passos, promover eventos e palestras direcionadas a este público. E é extremamente gratificante.

Também há 1 ano abri meu próprio escritório de advocacia e lancei meu próprio nome. Não tenham medo. Tenham os pés no chão quanto à condição financeira, mas se não puderem pagar uma sala não se envergonhem. Atendam na sala da OAB do fórum, atendam nos Escritórios Compartilhados. Façam dativos e aprendam a advogar.

Tenham medo apenas do comodismo, de viver à sombra, da infelicidade, de trabalharem forçados. Advocacia é sobretudo vocação. Saber ouvir, sentir alegria em ajudar, se emocionar com uma dúzia de ovos que um cliente do interior te traz ou uma medalha de São Bento. Dinheiro é uma consequência.

Cada cliente que sair grato e satisfeito lhe trará dez. Não é sobre vencer apenas, já tive clientes que não obtiveram êxito, mas mesmo assim me trouxeram outras causas e me indicaram. Pois fui transparente desde o início e sempre prezei pelo bom atendimento e clareza. Português é a língua que eles entendem, assim como eles adoram tomar um café e chá com seu advogado. Juridiquês em excesso e arrogância não trazem bons resultados.

Tenham cartões à mão sempre, façam check-in quando estão trabalhando fora do escritório, tirem fotos em palestras e cursos, façam informativos escritos e audiovisuais de novidades no Direito, publiquem artigos. Usem as redes sociais de forma ética a seu favor. Em um país com mais de 1 milhão de advogados quem não é visto não é lembrado. Não tenham medo de mostrar que abraçaram a advocacia, e que amam o que fazem.

O Judiciário irá desanimar vocês, é fato. Porém procurem ir às Varas quando aparecerem problemas, conhecer assessores, estagiários e respeitá-los, ter educação e articulação com juízes e promotores. Mas sejam combativos com abusos. Façam cada causa com capricho e acreditando piamente no que estão fazendo.

Quantos aos colegas, sejam aliados e não inimigos. Há causas para todos, há espaço para todos. Você brilha em criminal mas detesta trabalhista? Aprenda a fazer parcerias. A ganância e o ego cegam a muitos, a ponto de impedi-los até mesmo de cumprimentar o advogado contrário em uma audiência. Se relacionar bem com seus colegas facilita muito o bom andamento processual, a efetivação de acordos e abrilhanta a reputação.

Nem todos os dias serão maravilhosos, há dias em que eu fui dormir chorando diante da ingratidão, das puxadas de tapete ou das dificuldades financeiras. Mas o amadurecimento pessoal e profissional que isso me trouxe teve o condão de me ensinar sobre a gratidão pelo que se possui, e pelas pessoas que confiam no nosso trabalho e engrandecem nosso nome.

A advocacia demora a dar retorno, mas um dia ele chega sim. Para os fortes, valentes e pacientes. Para quem ama o que faz e não espera a sombra gratuita sem colocar a cara no sol. Estamos apenas no começo, ainda somos tão jovens. O sonho apenas começou. Acreditem em vocês! Venceremos!

Da sua colega,

Mery Teleginski

OAB/PR nº 74.064

Presidente da Comissão dos Advogados Iniciantes - OAB Subseção de Ponta Grossa - PR

Meryellen Teleginski
Advogada inscrita na OAB/PR sob nº 74.064, atuante nas áreas Cível, Trabalhista, Família e Previdenciária no escritório Meryellen Teleginski Advocacia & Consultoria. Presidente da Comissão dos Advogados Iniciantes da Subseção da OAB em Ponta Grossa - PR. Vice-presidente da Comissão da Mulher.

*Artigo servindo como grande motivação e inspiração para todos!

Fonte: Jus Brasil

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