Quero advogar, alguém incentiva?

Comecei a advogar assim que me formei. Desde lá, em 90% das vezes, não ouço grandes estímulos de quem já está na profissão que me fizesse ter vontade de permanecer na mesma.

Afirmo que a porcentagem de incentivos que tive vieram das reuniões e palestras da OAB da minha subseção, que enalteceram a carreira. Isso mostra a extrema importância da participação da liderança da OAB nesses casos, pois a grande massa está desanimada.

Assim, fora lá, não tenho grande apoio dos meus colegas durante o dia a dia.

Eles se mostram extremamente desanimados com a falta de valorização do profissional, com a desunião da classe, a falta de pagamentos dos clientes, a incerteza de salário, a falta de resposta do judiciário, por não terem férias de verdade, feriados não trabalhados, licenças remuneradas e despreocupadas, entre outras ponderações.

Sempre que a conversa “profissão” acontece pelos corredores forenses, em maioria ouço: “se você puder, faça um concurso”, querendo dizer: "fuja enquanto há tempo”. Não há como se animar e ter visão de futuro promissor com isto. Não os critico, acredito realmente que algo está errado e, gostaria de buscar formas de melhorar.

A proliferação da abertura de cursos de direito nas universidades e faculdades, bem como o aumento dos números de turmas nas que já possuíam o curso, são um dos motivos de desânimo. Não preciso nem tecer grandes comentários sobre este assunto, a discussão já é enorme quanto a insatisfação dos profissionais de todos os ramos quanto a diminuição da qualidade do ensino profissionalizante e o aumento dos profissionais despreparados.

Há também uma cultura dentro dos fóruns e outras instituições desvalorizante ao profissional da advocacia. Vejo que alguns dos servidores ou trabalhadores locais (deixo claro que não são todos), passam aos estagiários e estudantes que a maioria dos outros profissionais é superior a um advogado, como se advogar tivesse sido a última opção daquela pessoa. Acreditem, já ouvi o seguinte: “Ele não deve ter conseguido passar em nenhum concurso, então resolveu advogar mesmo, que é o mais fácil de passar”.

Como se o exame da ordem fosse a mais simples das provas. Não nos formamos advogados, nos formamos bacharéis, ainda precisamos passar na ordem para exercer a profissão.

Como se fosse fácil receber um prazo de 05 dias, que começa na quinta-feira e acaba na segunda. Como se fosse fácil explicar aos clientes o porquê de a ação não ter sido exitosa e esperar receber seus honorários mesmo assim. Como se fosse fácil ter uma petição não lida, entre tantas outras dificuldades.

Vejo com isso que alguns advogados acabam tendo receio de ir conversar com um Juiz ou Promotor, se sentindo inferiores. Ou até pelo bloqueio para se conseguir chegar até eles. Alguns servidores, assessores e estagiários já se exaltam quando preferimos não falar com eles (que é nosso direito). Vejo receios em audiências de conciliação, quando os advogados são forçados a aceitar um acordo," senão a sentença será assim... ".

Também percebo o desanimo pela desunião da classe. Você faz o seu preço, e o colega da esquina o abaixa. Você cobra consulta, o outro não. O cliente lhe procurou, possui a sua procuração, mas o outro passa na sua frente e fala diretamente com o seu cliente. Tentamos um acordo e o colega quer litígio, para garantir seus honorários. A ética profissional é esquecida por alguns nos processos... As brigas processuais são levadas para o lado pessoal.

No entanto, a verdade é a seguinte: durante a vida, quase todo mundo precisará de um advogado. Seja para processos, consultas formais, ou aquelas informais, que alguém lhe faz no meio de um happy hour. Todos tem, no mínimo, uma dúvida jurídica e nada como buscar um profissional da área para saná-la.

Não podemos esconder algumas coisas... Estou há pouco tempo advogando e vejo a amargura de não ter certeza se o cliente virá pagar naquele mês, se entrará valores, quando e quanto entrará. É difícil explicar ao cliente os motivos de se cobrar uma consulta. Já entendi que se você receber um alto valor de honorários, não pode sair por ai extravasando, devendo sempre ter uma reserva para caso não entre nada nos próximos meses. Já vi que não tenho feriados e férias serão difíceis. Licença maternidade então... Não será das mais tranquilas.

Mas confesso que já percebi também as facilidades de um profissional liberal. Podemos ganhar muito mais se nos dedicarmos. Não temos horário para nada, podemos organizar nossa semana como bem entendemos, nos horários que queremos. Podemos ser chefes de nós mesmos se abrirmos nosso escritório. Após receber nossa ordem, somos advogados aonde formos, não dependendo de concessão nenhuma para isto. Já notei o impressionismo de pessoas mais velhas ao dizer minha profissão. Entre outros...

Eu acredito que você pode ter excelência em qualquer profissão, se desejar exercê-la. Nenhuma é fácil, todas possuem seus prós e contras. O que não podemos, jamais, é desvalorizar ou desmotivar um profissional.

Por Gláucia Martinhago Borges

Fonte: gaumb.jusbrasil.com.br
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