Aos 65 anos, deficiente visual de Campinas quer ser advogado e presta Enem pela 2ª vez

http://goo.gl/gMtp9z | Ao 65 anos, um deficiente visual de Campinas (SP) se prepara para prestar pela segunda vez o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Para o aposentado Manoel Cirilo, conhecido como "Seu Manoel", a prova é o primeiro passo para realizar o sonho de ser advogado.

“Na vida o importante é estudar. É só querer, o que você quer, você faz”, afirma.

Perda da visão

O aposentado saiu de Barbalha, no Ceará, aos 18 anos e veio para São Paulo em busca de emprego. Como precisava sustentar a família, os estudos ficaram em segundo plano.

Em 2002 o aposentado começou a perder a visão gradativamente por causa de um glaucoma. No entanto, após a complicação no quadro de saúde, ao invés de desanimar, ele encontrou nos estudos a motivação para a nova fase da vida.

“Eu estava sem fazer nada, com um vazio na vida. Como tinha perdido a visão, comecei a ficar depressivo e tinha que fazer alguma coisa. Aí, comecei a estudar”, conta.

Concorrência

Após fazer supletivo, em 2013, ele completou o ensino médio e passou a frequentar o cursinho Prometheus, criado e idealizado por universitários, que dão aulas de reforço voluntariamente aos sábados.

No cursinho, o aposentado divide a sala de aula com outros candidatos "experientes" no Enem, mas não fica preocupado com a competição.

“Não acho que a concorrência é difícil, é só se preparar. Cada um é cada um, se você se prepara bem, não tem muita concorrência”, explica.

Durante as aulas, o companheiro inseparável do aposentado é o gravador. “Eu gravo as minhas aulas e depois passo para o pen drive para o computador ler”, conta.

O estudante ainda complementa sua formação com aulas de informática e inglês, já que recentemente ganhou uma bolsa de estudos. “Eu gosto e preciso, não tem outro jeito, todo mundo vai ter que ser bem formado”, afirma.

Desempenho 

No ano passado, o aposentado realizou a prova com a ajuda de duas leitoras, de forma oral e teve bom desempenho, mas, segundo ele, "pecou" na redação.

"O Enem foi fácil, mas eu dei mancada na redação. Tirei 442 pontos. Eu estava muito sem conhecer, sem saber como era o Enem. Eu acabei esquecendo o cartão de respostas, eu nem lembrei”, explica.

A maior dificuldade dele é a área de exatas. “Física é o mais difícil, eu tenho estudado muito pouco. Estava meio devagar, é meio complicado”, diz.

Universidade

Assim como para os demais estudantes, o Enem é a melhor oportunidade para "Seu Manoel" conseguir uma bolsa na universidade.

"É o jeito mais fácil de entrar na faculdade, eu estou mais preparado”, confia o aposentado.

Neste ano, ele vai retomar o sonho antigo e se inscrever para o curso de direito. "Eu posso até ser promotor”, planeja.

Sobre as dificuldades de voltar a estudar depois dos 60 anos, o aposentado não vê como obstáculo, mas se diz arrependido por ter esperado tanto.

“Estou achando tudo mais fácil do que no tempo de criança. Se eu tivesse estudado antes, eu estaria com meu salário bem melhor. Quem estuda e se dedica tem um salário bom”, afirma.

Conselho

Para os estudantes, que assim como ele vão prestar o Enem, o aposentado deixa como conselho a persistência. “Não tem que desisitr, tem que estudar e prestar atenção no que está fazendo. O jovem precisa estudar muito, porque o bicho vai pegar, não pode parar, ninguém pode parar", finaliza.



Fonte: G1

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