A Advocacia Criminal exercida por nós, mulheres! Por Bruna Lima e Victória Maia

goo.gl/n8Lasa | Quem nunca ouviu “faz o curso de direito, pois existe um leque de opções depois que se formar...”. Quantas carreiras jurídicas, além das tradicionais. O sistema é complexo e realmente cheio de oportunidades. Logo após a nossa formatura, estávamos ansiosas pela cerimônia de recebimento da Carteira da OAB. Nos tornaríamos Advogadas. Nem nos maiores e melhores sonhos imaginávamos que o primeiro cliente apareceria tão depressa.

Nos tornamos Advogadas Criminalistas. E agora vocês devem estar se questionando, mas afinal, o que isso tem de relevante ou de importante? A partir daquela primeira assinatura na nossa Procuração, adentramos em um mundo onde primeiramente, o profissional, o Advogado Criminalista, é visto com o “canto do olho”.

Vivemos tempos difíceis. Extremismos, caos na insegurança pública, discursos de ódio. O Advogado Criminalista, para muitos, está no mesmo patamar do criminoso. “Se tu defende, tu também é ladrão, assassino, estuprador.” Esse é o discurso latente em nossa sociedade. Não bastasse isso, somos mulheres, ainda vistas com mais desconfiança por parte da nossa comunidade.

Vivemos no século XXI, temos garantida a igualdade de gênero em texto Constitucional, mas assim como qualquer outro tipo de preconceito que vemos diariamente na sociedade brasileira, seja racismo, homofobia, ainda há determinados preconceitos em relação à profissão da Advogada “mulher”. Ainda mais quando ela resolve ser especialista na área Criminal. E para àqueles que acreditam que esse preconceito é de uma minoria, alguns exemplos básicos vivenciados, infelizmente, por nós, demonstram que ele está em todo lugar.

Logo no início, ainda tímidas, ouvíamos nas Delegacias de Polícia, nas Penitenciárias e até mesmo de familiares e conhecidos: “mas são tão delicadas para ficarem indo nesse tipo de lugar e lidando com esse tipo de gente”, “façam concurso para ganhar bom salário e ter estabilidade”.

Alguns anos se passaram, mas o discurso permanece. Noutra oportunidade, chegamos no Gabinete de determinada Desembargadora para despachar antes de uma sessão de julgamento. Batemos na porta, fomos atendida por uma servidora mulher que olhou para trás e avisou seu colega: “tem umas gurias aqui”. Será que um homem da nossa idade passaria por tal situação? Seria mencionado como “guri” na porta do Tribunal de Justiça? Veja-se, o discurso partiu de uma mulher.

Mas quem acha que o preconceito encontra-se isoladamente dentro dos prédios judiciais, engana-se. Em dada situação, adentrando em veículo que fora chamado através de aplicativo, onde colocamos o endereço de uma dada casa prisional, fomos questionadas pelo motorista: “vão visitar um parente?”.

Não obstante, impossível deixar de relembrar quando fomos realizar palestra em uma escola e junto de nós havia um acompanhante homem. Adivinha quem era cumprimentado como palestrante? Ele mesmo, o homem que apenas nos acompanhava e nada tinha a ver com a palestra, tendo ido no local somente para assistir nossa fala.

Em todas as oportunidades nossas vestimentas se adequam perfeitamente a legislação atinente à Advocacia: calça social, saia social, camisa social, vestido social, salto alto, maquiagem. O preconceito seria por sermos mulheres?

Colegas homens jovens poderiam dizer que também sofrem em certos momentos pela idade e aparência que apresentam, mas uma breve conversa de cinco ou dez minutos em que nossos relatos são apresentados são suficientes para o Advogado Jovem verificar que está longe de passar pelo que a mulher, jovem e Advogada é submetida no exercício de sua profissão.

Muitas vezes, até mesmo pelos próprios clientes, percebemos a incerteza na oportunidade da contratação por sermos mulheres. Nosso discurso tem que ser muito mais profundo e convincente de que o proferido pelos nossos colegas Advogados. “Será que ela sendo mulher vai conseguir enfrentar um Juiz, um Promotor?”.

Vai, vai sim! Nossas credenciais profissionais tem a idêntica validade dos nossos colegas homens. E o que faz um profissional ter sucesso é sua qualificação, especialidade, dedicação, estudo e combatividade, não importando se usa terno ou vestido.

Tudo o que nos falam, até hoje, somente serve de alicerce para o nosso crescimento profissional e orgulho pela carreira que escolhemos, mesmo diante de tantos obstáculos, pois nenhum deles nos fez desistir ou abalou a admiração que temos pelo caminho que escolhemos traçar.

Sabemos da árdua luta diária e nos orgulhamos de cada passo que caminhamos até aqui, mantendo nossa paixão e brilho nos olhos a cada segundo que passa, a cada novo obstáculo, a cada novo desafio. Não por gênero. Mas por termos escolhido a profissão que amamos e termos a oportunidade de acordar todos os dias para exercê-la (sem contar as inúmeras vezes que sequer conseguimos dormir).

Sim, somos mulheres. Sim, somos delicadas. Sim, usamos salto alto, batom vermelho e saia. Sim, somos Criminalistas e gigantes. Gigantes porque não nos calamos para as injustiças que vemos na nossa frente diariamente dentro do Sistema como um todo. Gigantes porque não desistimos quando nos colocavam em posição inferior a qualquer outra e ainda pisavam. Enchemos o peito a fim de gritar: SOMOS FORTES e LUTAMOS POR JUSTIÇA!

O Sistema Penitenciário, as Polícias e o Judiciário é de maioria masculina, existindo, obviamente as mulheres, as quais também lutam para conquistar espaço e igualdade. O respeito é e deve ser a base de todas as relações. A diferenciação de um profissional com base no seu gênero é inadmissível.

Felizes ficamos ao nos deparar com Magistradas presidindo atos, Promotoras e Procuradoras de Justiça representando o Ministério Público, Delegadas, inspetoras e Policiais mulheres conduzindo flagrantes, investigações. Somos em grande número, temos a mesma capacidade e devemos ocupar os mesmos espaços.

Neste sentido, trazemos dados que chamam atenção no quadro de Advogados em nosso país que conta, atualmente, com mais de um milhão e cem Advogados. Analisando o comparativo entre mulheres e homens, verifica-se similaridade nos números, evidenciando-se que nos estados é possível verificar que a diferença entre homens e mulheres não supera o número de quatro mil.

Na oportunidade, destacamos os estados onde existe um maior número de Advogadas mulheres do que homens: Rio de Janeiro, Bahia, Rondônia, Espírito Santo e Pará.

E para aquelas que ainda não decidiram que carreira seguir, não deixe de acreditar que é possível pelo fato de ser mulher. Empenhe-se, plante e colha os frutos da dedicação no seu futuro. Não se limite por seu gênero. Faça dos seus sonhos a realidade!

Estamos cada vez mais presentes no mercado, nos qualificando e buscando ser exatamente o que queremos. Estamos na tribuna fazendo sustentação oral, em Plenário de Júri defendendo nosso cliente, dentro das Delegacias acompanhando os flagrantes, nos parlatórios dos Presídios dando a devida assistência a quem nos confiou a sua liberdade.

Porque assim o é o (a) Advogado (a) Criminalista, não importa o seu gênero, mas sim a luta com que desempenha o seu papel em busca da Justiça!

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Fonte: canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br

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