Jovem cria manual para idosos usarem WhatsApp com níveis de aprendizagem

Com objetivo de facilitar o uso das tecnologias para pessoas mais velhas, Alexandre Drabecki concilia faculdade de Direito com produção de cartilhas feitas à mão.

Com canetinhas coloridas, folhas sulfite e muita dedicação, o estudante de Direito Alexandre Drabecki, de 26 anos, elaborou um "manual do WhatsApp" para ajudar idosos a mexerem no celular.

O conteúdo foi organizado em 60 páginas e separado por níveis de aprendizagem, desde o mais simples, como mandar um áudio, até o mais complexo, com orientações sobre como fazer uma lista de transmissão. Depois de planejar tudo no papel, ele digitalizou o conteúdo.

"Os manuais das coisas, em geral, não são atraentes, nem didáticos e nem inclusivos. São letras minúsculas, linguagem difícil. Nem sempre tem alguém para 'socorrer' e ensinar, e eles também sentem que estão atrapalhando em perguntar o que não sabem, então acaba que eles ficam sem saber. O manual nunca vai abandonar eles nessas horas", disse.

Este foi o segundo manual que o estudante criou. O primeiro foi feito em 2018 para ensinar a Dona Iracema, avó da então namorada, a manusear o primeiro celular que ganhou na vida. Ela não sabia fazer os comandos mais básicos disponíveis no aparelho, como desbloquear a tela, verificar a barra de notificações e mandar mensagens.

À época, a família de Dona Iracema afirmou que ela perguntava várias vezes como se utilizava o WhatsApp e chegou a demorar dias para visualizar uma mensagem.

O namoro de Drabecki com a neta de Iracema não deu certo, mas tudo que, por meio deste relacionamento, surgiu de benefícios para outras pessoas, permaneceu firme dentro dele.

Além da ideia de tentar publicar os materiais que já criou, o estudante conta que tem o sonho de unir a futura formação em Direito com o "mundo" dos manuais, fazendo conteúdos didáticos para explicar leis, código do consumidor, entre outros temas.

"Por que não posso pegar, por exemplo, a nossa legislação e deixar de maneira mais acessível?! Aquela linguagem rebuscada do direito é difícil mesmo. Faria edições, tipo: que é o Código Penal, o Código Civil, etc. Eu não iria mudar nada, só iria facilitar, claro que tudo feito com responsabilidade", explicou.

Segundo ele, com esses conteúdos escritos de maneira mais simples, direta e com linguagem menos rebuscada, talvez mais pessoas, não só idosas, se interessem e aprendam.

"Pode até aumentar a participação na política. Ela vai saber, inclusive, mais sobre os próprios direitos. Tenho fé que vai aparecer alguém para me ajudar a levar esse projeto para frente. Eu vejo como um projeto de vida. Ver que é importante para as pessoas é o que me move. Não vou desistir", afirmou.

Tutorial de sucesso

O primeiro manual que ele criou viralizou após compartilhar no Twitter. A postagem teve 78,5 mil curtidas e 17,4 mil compartilhamentos.

Devido à repercussão inesperada, Drabecki digitalizou o tutorial e disponibilizou um link para quem tinha a vontade de baixar os arquivos ou imprimir o manual.

A boa ação dele se destacou tanto que ele foi convidado, em 2019, a participar de uma edição do programa Encontro com Fátima Bernardes.

"Depois que foi para a rede nacional, aí pelo menos 100 milhões de pessoas tiveram contato com o manual ou até mais. Foi muito legal. Apareceram até jovens vindo falar comigo que não sabiam como fazer coisas simples, mas a maioria esmagadora dos jovens falaram que queriam na verdade imprimir o meu manual e dar para os pais ou avós", revelou.


Ainda durante o programa, uma senhora relatou que havia ganhado uma máquina de costura e não sabia usá-la, pois o equipamento era de um modelo mais moderno.

"Pensei por que eu não faria um manual falando como usar uma máquina de costura mais tecnológica como ela precisava?! Ou então, por que eu não faço um manual explicando como é que anda em uma bicicleta elétrica por exemplo?! Aplicativos vão surgindo ano após ano, e manuais procedimentais para coisas tecnológicas sempre vão ser necessários. Sempre vai haver uma população que tem uma dificuldade maior para achar essas tecnologias e usar elas", comentou.

'Na trave'

O material escrito à mão que Drabecki preparou para a avó da ex-namorada tinha apenas quatro páginas, mas fez tanto sucesso que ele resolveu apostar ainda mais na ideia.

Mesmo com a rotina corrida atualmente, por conta da faculdade, estágios e pesquisas científicas, ele começou a fazer uma cartilha mais completa do WhatsApp.

"Comecei a fazer um manual bem completo, até porque o whats tinha 50 vezes mais funções do que o primeiro manual que eu fiz. Então, eu pensei vou terminar de explicar um aplicativo, o WhatsApp, e depois vou começar sobre outros apps, como Instagram, Facebook, YouTube, apps de transporte, etc".

Para fazer a capa do manual, o jovem teve ajuda do cunhado e da irmã, que dominam mais as edições em computador. Ele separou tudo em quatro níveis e buscou usar uma linguagem mais fácil para entendimento.

"Acho que aprender é meio como uma escadinha, aos poucos, uma coisa de cada vez, por isso optei pelos níveis 1, 2, 3 e 4. Procurei estabelecer táticas para ensinar um idoso a mexer com tecnologia, e cada uma dessas táticas tem que estar dentro de um padrão didático inclusivo, tem que fazer parte da linguagem do idoso", explicou Drabecki.

Segundo o autor, durante o processo de produção do material, uma editora fez um convite para publicar o manual, porém, na reta final, ele teve o plano interrompido.

"Devido à oportunidade, eu até acelerei o processo. Pensei em fazer ele como se fosse à mão, mas digitalizado, um modelo meio 'paint'. Só que acabou indo para o editor-chefe e ele falou que a proposta da editora não era manuais de instruções. Foi na trave", relembrou o estudante.


Como Drabecki contou, depois do "banho de água fria" ele chegou a desanimar da ideia, mas não desistiu. Ele trocou de emprego, encontrou uma nova namorada e resolveu, em meio aos afazeres, pesquisar mais sobre o assunto.

"Pesquisei como eu teria que fazer para ter uma distribuição melhor, como seria a logística para levar para outros estados do Brasil, como seria produzido com a editora, etc. No fim das contas, descobri que seria um negócio muito caro, no mínimo eu teria que ter uma parceria que já mexe com isso, transportadora, impressão, enfim", revelou ele.

Conforme o estudante, professores da faculdade também orientaram sobre alguns pontos em relação à produção deste tipo de conteúdo.

"Um deles, o Sérgio, que foi um dos precursores dos direitos autorais no Brasil, me explicou que tinha que cuidar com a imagem, com logos. Se for usar para vender, por exemplo, eu teria que pedir autorização. Para gravar direitos autorais também demora um tempo. Mas, a proposta do manual é ajudar, eu nunca vi nada parecido na internet, isso que eu pesquisei muito sobre. Se existe um manual de app, ele não está aparecendo, não está disponível facilmente para as pessoas", concluiu.

Fonte: G1 Paraná

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