Polícia fecha fábrica em Contagem que produzia cachaça com álcool veicular

Via @otempo | A Polícia Civil apreendeu nesta quarta-feira (16), 60 mil litros de álcool veicular que seriam usados para fazer cachaça, em uma fábrica clandestina no bairro Europa, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. A investigação da Polícia Civil apontou que o produto, altamente letal para a vida humana, estava sendo utilizado na produção da bebida. Um homem, de 40 anos, que seria o responsável pelo negócio foi preso. Dois funcionários da empresa também foram conduzidos e liberados. 

A polícia chegou até o local após uma denúncia anônima feita ao Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA). De acordo com o delegado Marlon Pacheco da Polícia Civil, no local havia uma grande estrutura industrial montada exclusivamente para a falsificação das bebidas e a quantidade apreendida de álcool poderia render 120 mil litros de cachaça falsificada. Se vendida, o lucro gerado com o produto adulterado podia chegar a R$ 2,4 milhões. 

“Nós encontramos uma estrutura industrial complexa, que inclusive contava com um fundo falso para esconder esse combustível. Nesse local nós encontramos 60 mil litros de etanol, produto totalmente impróprio para o consumo humano”, explicou o delegado. 

A bebida era envasada em uma garrafa de plástico pequena, a popular barrigudinha. Os rótulos não traziam as informações obrigatórias sobre o produto e a investigação ainda quer saber se os nomes das duas bebidas comercializadas, Barrilzinho e Valiosa, foram criados pelos falsificadores ou copiados de empresas que já atuam no ramo. 

“Nós não sabemos ainda se foi utilizada uma marca legal ou se eles criaram essa empresa, aparentemente legal, para adulterar o produto. O fato é que é importante frisar que é um produto nocivo totalmente ao consumo humano”, pontuou. 

Investigação

Os policiais chegaram a dois endereços. No galpão localizado no bairro Europa era feito o processo de fabricação da cachaça. Já em outro endereço, no bairro Tropical, as bebidas eram envasadas.

A falsa cachaça continha álcool etílico, desdobrado em água, adoçante industrial e serragem. Os produtos vão passar por mais análises laboratoriais. 

No processo de aditivos do etanol, na fabricação dessa cachaça adulterada, a substância tinha a possibilidade de se transformar em metanol, um álcool tóxico, que se ingerido, pode causar cegueira e até levar à morte.

“As investigações estão no início e de imediato nos surpreendeu a quantidade de produto apreendido e toda a estrutura fabril envolvida. As investigações seguem no sentido de apurar se tinham mais envolvidos, o volume comercializado e quem eram as pessoas que compravam e distribuíam esse produto”, disse o delegado. 

Diferente do caso Backer

O delegado destacou ainda que o caso é bem diferente do Caso Backer, onde a investigação apontou que as cervejas acabaram sendo contaminadas ainda no processo de fabricação por outra substância: o monodietilenoglicol. 

“Diferente do caso Backer, aqui nós temos uma estrutura dolosamente montada para adulteração. Não há aqui qualquer tipo de acidente. Nós temos uma estrutura criada para produzir um produto totalmente impróprio para o consumo humano”, apontou.

Os policiais informaram que que delegacia, o suspeito preso que serio o proprietário do negócio preferiu se manter calado.

Perigo

O fiscal agropecuário do IMA, Lucas Guimarães explica que o órgão recebeu uma denúncia anônima sobre a falsificação da bebida. “Nós recebemos a denúncia pelo Fale Conosco institucional. Ele retransmite dentro do IMA os assuntos pertinentes a cada área. A gente achou prudente procurar a polícia porque estava bem clara a existência de uma atividade criminosa”, relatou. 

Guimarães explica que durante o processo de aditivação o etanol pode se transformar em metanol, substância muito mais letal do o dietilenoglicol e o monodietilenoglicol encontrados nas cervejas da investigação do caso Backer, podendo causar cegueira e morte da pessoa que ingere. 

“Essa cachaça é um produto que tem um alto índice de enxofre, ele não é um produto onde não se tem um monitoramento dos padrões estabelecidos para a produção de cachaça. É um produto onde eles usam componentes que podem ser alérgicos e causa o fechamento de glote, além do metanol que pode causar cegueira e morte”, pontuou. 

O médico cardiologista da clínica Aquimed, Alan Max, explica que a agilidade na procura por um hospital faz muita diferença nesses casos. “O metanol é realmente muito tóxico, e após ele ser metabolizado no organismo que é o problema. Em 24 horas a pessoa pode até já entrar em coma”, disse. O especialista aponta que em Belo Horizonte, o hospital João XXIII é referência na área de toxicologia e tratamento em envenemento. 

"Um dos tratamentos é exatamente com o etanol para se combater o metanol", explicou.

Próximos passos 

A investigação agora quer saber para quem os produtos eram comercializados. As pessoas que compraram as cachaças devem procurar a Polícia Civil, o IMA, ou ainda a Vigilância Sanitária para que o produto seja corretamente descartado.

Fonte: otempo.com.br

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