"Há uma avaliação médica que a gente precisa colocar de que a gente não pode desconsiderar a realidade dos fatos. Quem tá no consumo há mais de cinco anos, são os estudos que demonstram que o poder público precisa dar atendimento e se o atendimento for internação involuntária, compulsória, se for comunidade terapêutica, seja ele qual, a prefeitura e o governo do estado dará a ele. O que a gente não pode é ter as pessoas jogadas na rua, se consumindo com o crack".
Ele também afirmou que o Centro de Referência de Álcool Tabaco e Outras Drogas nas ações é subaproveitado e quer que o estado fortaleça e amplie os atendimentos no equipamento.
"O que a gente tem falado é o Cratod (Centro de Referência de Álcool Tabaco e Outras Drogas) é um equipamento importante de saúde do estado onde hoje esta com pouca atuação, de reformular e de potencializar os atendimentos."
Na terça (10), dependentes químicos da Cracolândia pintaram uma faixa branca na Rua Vitória, onde estão concentrados, demarcando o espaço. Nunes disse que delimitações só podem ser feitas pela gestão municipal e mandou apagar a faixa.
Nesta semana, a gestão municipal se reuniu com o governo do estado e o Ministério Público para discutir propostas para a Cracolândia.
Desde 2022 a prefeitura e o governo do estado realizam ações para tentar combater o tráfico de drogas da região. As medidas, entretanto, não impediram a venda e o consumo no local, apenas fizeram com que os usuários se espalhassem pelo Centro.
No ano passado, donos de hotéis do bairro chegaram a enviar pedidos de ajuda à Secretaria do Turismo por causa dos prejuízos acumulados por conta das ações de dispersão.
Mais de 100 hotéis registraram queda nas reservas após as ações. A área é procurada principalmente por dois tipos de turistas: os que vão para as compras em regiões como a 25 de Março e o Brás, e os que participam de eventos corporativos.
De acordo com a Associação da Indústria de Hotéis, por medo, as pessoas estão preferindo se hospedar em áreas mais distantes.
Fechamento do Liceu
O tradicional colégio Liceu Coração de Jesus, na região central de São Paulo, encerrou as atividades neste ano.
Fundada há 137 anos, em um edifício já tombado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico da Cidade de São Paulo), a instituição ligada à igreja católica chegou a ter mais de 3 mil alunos, mas passou a sofrer com o problema de insegurança causado por sua proximidade com a região da Cracolândia, um dos fatores que levou à diminuição do número de estudantes.
Dispersão de usuários
Mapa com áreas de pequenas Cracolândias pelo Centro de SP — Foto: Reprodução/TV GloboNovos locais com concentração de pessoas em situação de rua usando drogas surgiram após a dispersão de dependentes químicos da Praça Princesa Isabel, no Centro de São Paulo, segundo pesquisa da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo (USP) em 2022.
Os pesquisadores identificaram que a maior parte desses pontos está na região central da capital. Eles reúnem de 20 a 200 usuários em cada local.
Na ocasião, o estudo apontou que a tática usada pela prefeitura para a dispersão dos dependentes químicos não era a mais adequada para resolver o problema da Cracolândia.
A prefeitura defende que as ações no centro provocaram um aumento no atendimento aos dependentes químicos, e que desde 2017 é possível verificar uma redução do número de pessoas na Cracolândia.
Entretanto, uma investigação do Ministério Público que apontou ilegalidade no processo afirmou que a grande maioria dos internados não tinha histórico de dependência química.
Cracolândia é desafio há décadas
Dispersão da Cracolândia em SP — Foto: Reprodução/FantásticoA Cracolândia já se mudou para a Praça Princesa Isabel mais de uma vez. Em 2017, depois de uma operação policial com mais de 900 agentes, os usuários que ficavam na Rua Helvétia se espalharam pelo Centro, concentrando-se na praça Princesa Isabel durante um mês.
O então prefeito da capital paulista, João Doria (PSDB), chegou a dizer que a Cracolândia havia acabado em São Paulo. Mas, depois da operação, os dependentes químicos voltaram para o mesmo lugar.
A Cracolândia é um desafio para São Paulo há cerca de 30 anos. Especialistas apontam que a solução passa por medidas efetivas e permanentes nas áreas de saúde, assistência social e segurança pública.
As operações são criticadas por movimentos sociais. Ativistas acusam as forças de segurança de agirem com violência contra usuários de drogas, espalhando eles pela cidade.
Cracolândia se espalha pelo centro de SP; moradores reclamam dos transtornos — Foto: Reprodução/Hora 1Por g1 SP — São Paulo
Fonte: g1