Estudante escolhe ser advogada ao saber que seria mãe de uma menina negra

Via @guiadoestudante | Filha de pais que não tiveram a oportunidade de cursar uma faculdade, Aline Juliana Martinez da Silva chorou quando viu, em março de 2022, seu nome na lista de aprovados do Prouni (Programa Universidade para Todos) e soube que teria uma bolsa integral para estudar Direito. Mas a aprovação também tinha um gosto um pouco amargo. “Eu achava que não ia dar conta, de verdade”, contou a jovem de 29 anos ao GUIA DO ESTUDANTE. 

Aline é mãe de Agatha, que nasceu em 2017 e mudou sua vida de todas as formas possíveis. De uma gravidez não planejada, vieram respostas que Aline buscava há anos: o que estudaria depois que havia abandonado, frustrada, um curso de Publicidade e Propaganda? Com o que sonhava trabalhar, qual caminho profissional queria para si?  

A resposta para todas estas perguntas chegaram junto com o teste positivo. Agatha mostrou para Aline, segundo ela, qual era o seu “propósito”. 

Dos cursinhos populares à faculdade de Direito

Agatha e Aline posam na escadaria da Faculdade de Direito. (Arquivo Pessoal/Reprodução)

“O pai da Agatha é um homem negro, então eu sabia que ela seria negra”, relata a estudante, que se deparou com essa reflexão logo que descobriu a gravidez. Ela, enquanto mulher branca, tinha ciência do desafio que lhe aguardava a partir dali. “Eu queria entender como é a vivência de uma mulher negra na nossa sociedade, para poder oferecer o suporte que ela precisaria”. 

Foi estudando a questão racial no país e entendendo as dificuldades enfrentadas sobretudo por essas mulheres que ela, pela primeira vez, cogitou o curso de Direito como uma possibilidade. “A Agatha foi a razão da minha vontade de querer voltar a estudar, para adquirir conhecimento e trabalhar com um propósito”. 

A partir de 2018, ano seguinte ao nascimento da filha, começou a traçar estratégias para voltar à sala de aula. Recebeu de um primo uma postagem nas redes sociais que anunciava inscrições para um cursinho pré-vestibular gratuito na USP (Universidade de São Paulo), ministrado por estudantes dos cursos de economia, administração e contabilidade. Inscreveu-se e conseguiu uma vaga. 

No primeiro ano de preparação, chegava a frequentar as aulas dia sim e dia não, para conciliar com um emprego que havia conseguido na época, de três dias por semana. O curso acontecia à tarde, enquanto a filha estava na creche. Na época, Aline era a única cuidadora da filha. 

Aline não passou nos vestibulares na primeira tentativa, mas estava certa de que continuaria tentando. A jornada de revisões, provas, redações e vestibulares se estendeu pela pandemia, e a estudante chegou a frequentar cursinhos populares oferecidos em outras unidades da USP. Normalmente organizados pelos próprios estudantes universitários, estes cursos são iniciativas de extensão voltados à população de baixa renda, e ampliam o acesso ao Ensino Superior facilitando que estas pessoas atravessem a peneira dos vestibulares. 

Aline se recorda que foi nas salas de aula dos cursinhos que descobriu que poderia fazer faculdade sem pagar nada por isso, por meio de iniciativas como o Prouni, que oferece bolsas, e o Sisu, que oferta vagas em universidades públicas. 

No início de 2022, Aline já estava com a inscrição feita no cursinho popular da Faculdade de Direito da USP, mas a boa notícia veio antes disso. Ela havia sido aprovada no curso de Direito da faculdade São Judas, com uma bolsa integral pelo Prouni.

“A mensalidade da faculdade que eu estudo é em torno de R$ 1800, e é isso que eu ganho para sobreviver – pagar o aluguel, mercado e criar uma criança. Então ou eu sobreviveria, ou eu faria faculdade se não fosse pelo Prouni.”

“Virou minha colega de turma”: a rotina de mãe universitária

“Se elas conseguiram, eu também consigo”. Era isso que Aline pensava cada vez que via nas redes sociais vídeos de mães que levavam os filhos pequenos para a faculdade – e foi exatamente nessa situação em que ela se viu no semestre passado, quando não conseguiu a ajuda de ninguém para cuidar de Agatha no horário em que precisava ir à faculdade. 

Felizmente, encontrou um ambiente receptivo. “Ela ficou super amiga das minhas amigas, dos professores, virou minha colega de faculdade!”. 

Aline vive buscando estratégias como essa para enfrentar a rotina de mãe, estudante e profissional, mas não nega que em muitos momentos as dificuldades pesam mais. A estudante de Direito trabalha hoje como agente comunitária de saúde em uma UBS (Unidade Básica de Sáude) e foi lá que procurou atendimento psicológico quando sentiu estar entrando em uma crise depressiva.

“Eu não estava dando conta de todas as minhas demandas do dia, tanto no trabalho quanto em casa e na faculdade. E aí eu entendi que eu preciso priorizar alguns pontos e fazer o que dá, entender que o que deu foi o meu melhor e é o suficiente.”

Com isso em mente, seu novo objetivo este ano tem sido buscar caminhos para entrar no mercado de trabalho do Direito. Aline gostaria de estar estagiando na área, como vários colegas da sua turma, e até conseguiu uma vaga há pouco tempo. Mas o salário não era compatível com o que ganha hoje e que precisa para criar a filha. 

A alternativa que encontrou é começar a estudar para concursos públicos, que permitiriam que ela trabalhasse mais próxima ao Direito antes mesmo de se formar. “Me inscrevi para um agora de escriturária jurídica, que só precisa do Ensino Médio. Se eu conseguir passar nele, consigo fazer a transição de carreira da saúde para área que eu quero realmente estar.”

Aline ainda não decidiu se, futuramente, vai seguir pelo Direito Civil ou Penal, mas sabe bem quem pretende defender. “Eu quero trabalhar com projetos sociais, tanto voltados para mulheres vítimas de agressão como de racismo”.

Fonte: guiadoestudante.abril.com.br

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