Kely Moraes contou que tinha acabado de sair do banheiro feminino quando foi abordada por uma aluna do estabelecimento, que a xingou. Em seguida, um homem se juntou à agressora e até bloqueou a entrada do local para impedir que a vítima entrasse.
O caso aconteceu numa unidade da Selfit, na manhã desta segunda-feira (26). Kely disse que caiu da moto no caminho e foi ao banheiro se limpar, já que estava com o pé sangrando. Na saída, encontrou a agressora, que estava entrando no local.
"Ela disse que eu não podia ir no banheiro, e eu perguntei por quê. Ela disse 'não é lugar para você' e eu perguntei, novamente, por quê. Ela disse que o banheiro de homem era lá embaixo. Disse 'você é trans, mas é um homem'. Eu me alterei um pouco e minha aluna, que está grávida, chegou, pegou a conversa no meio do caminho e ficou muito nervosa", contou.
A personal trainer filmou parte da confusão. No vídeo, é possível ouvir a aluna dizendo para a vítima mostrar a identidade ao agressor, que aparece vestindo uma regata preta, com uma garrafa rosa na mão. Um professor da academia tenta acalmar os dois.
O homem fala que, no andar de baixo, tem um banheiro para Kely, que pergunta "porque eu sou o quê?". "É inclusa, é inclusiva, lá embaixo", diz o agressor. A personal trainer diz que vai entrar no banheiro de todo jeito, e o homem nega, se colocando na frente. Em seguida, a mulher que iniciou a confusão aparece na frente do banheiro.
Discriminação
Kely Moraes trabalha como personal trainer há três anos. Ela contou que é fisiculturista e, por causa do porte físico, já teve a identidade de gênero questionada outras vezes.
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Personal trainer Kely Moraes foi agredida verbalmente ao ser confundida com mulher trans em academia no Recife — Foto: Reprodução/Instagram |
"Por ser fisiculturista, nosso corpo é diferenciado, e isso é relativamente normal acontecer, as pessoas olharem feio. Eu já fui convidada a me retirar de uma festa. Mas nunca tinha acontecido nada nessa proporção, nada tão violento. Me senti ofendida, humilhada, ela gritava para todo mundo e as pessoas mandavam eu ficar calada. Eu que era a vítima ali", disse.
Depois que os dois agressores saíram da academia, Kely contou que foi acolhida pela academia, e foi, junto com a aluna, à Delegacia de Boa Viagem. Lá, as duas registraram boletim de ocorrência na Polícia Civil.
"Ela falava com tanta certeza o que eu era que eu quase mostrei minha identidade para provar que eu era mulher. Depois, entendi que eu não tinha que provar nada para ninguém. O olhar, as palavras ofensivas, diminuem você a nada. Se eu fosse [trans], o que tem a ver? Por que isso ofende tanto? Eu estava só trabalhando, só queria ir no banheiro", afirmou.
Procurada, a Polícia Civil informou que o caso foi registrado pela Delegacia de Boa Viagem como uma ocorrência de constrangimento ilegal, vias de fato e ameaça. A corporação disse que um inquérito foi instaurado e que as investigações seguem "até a completa elucidação" dos fatos.
O g1 tenta localizar a defesa do homem e da mulher envolvidos.
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Casal impediu mulher de entrar em banheiro de academia ao confundi-la com trans — Foto: Reprodução/WhatsApp |
O que diz a academia
Em nota, a Selfit afirmou que:
• "lamenta profundamente o episódio ocorrido na unidade Boa Viagem II";
• "repudia qualquer ato de preconceito ou violência";
• "assim que a situação foi identificada, a equipe local agiu para conter os ânimos e garantir a segurança das pessoas envolvidas";
• "as partes foram orientadas a formalizar o ocorrido às autoridades competentes e, desde então, a Selfit está à disposição para colaborar com as investigações";
• "também foi iniciada uma apuração interna rigorosa e serão aplicadas medidas disciplinares adicionais, conforme os princípios e valores da empresa";
• tem a missão de "proporcionar um ambiente seguro, acolhedor e respeitoso para todas as pessoas que frequentam nossas unidades — clientes, colaboradores, prestadores de serviço e parceiros".
Por g1 Pernambuco
Fonte: g1