Resenhas podem diminuir a pena em quatro dias após serem validadas na Justiça. Ao todo, Flordelis eliminou somente 36 dias dos 50 anos e 28 dias aos quais foi condenada como mandante do homicídio triplamente qualificado de Anderson, ocorrido em junho de 2019.
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“O Pequeno Príncipe” (1943), de Antoine de Saint-Exupéry |
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“O Diário de Anne Frank” (1947), de Anne Frank |
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“A Menina que Roubava Livros” (2005), de Marcus Zusak |
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“A Voz Submersa” (1984), de Salim Miguel |
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“O Menino de Pijama Listrado” (2006) |
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“Dom Casmurro” (1899), de Machado de Assis |
A maioria das obras lidas por Flordelis é do gênero romance, mas livros que abordam o nazismo e o Holocausto também se destacam. As notas da ex-parlamentar variaram de seis a nove em cada resenha.
Confira as sinopses dos livros e as notas obtidas por Flordelis em ordem de leitura:
• “O Pequeno Príncipe” (1943), de Antoine de Saint-Exupéry: narra aventuras de um príncipe que viaja por planetas, encontra diferentes personagens e se depara com lições sobre a vida. Esse clássico da literatura infantil francesa, admirado por adultos, aborda reflexões sobre amor e amizade. Nota da resenha: 7;
• “O Diário de Anne Frank” (1947), de Anne Frank: detalha os dias antes e durante o confinamento da família Frank e de outros judeus no Anexo, onde se esconderam em Amsterdã, antes de serem capturados pela Gestapo e levados a um campo de concentração nazista. A história, baseada em fatos reais, retrata o Holocausto sob a ótica de Anne, que era uma adolescente na época. Nota da resenha: 8;
• “A Menina que Roubava Livros” (2005), de Marcus Zusak: conta a história de Liesel Meminger, que encontra a Morte (narradora) por três vezes na Alemanha nazista de 1939 a 1943, assim como a amizade dela com o judeu Max. A jovem protagonista surrupia obras, como o próprio título escreve, desde que o irmão dela morreu e o coveiro deixou um livro sobre a neve. Nota da resenha: 8,5;
• “A Voz Submersa” (1984), de Salim Miguel: o romance retrata a sociedade brasileira durante a Ditadura Militar (1964-1985) a partir da visão do autor do corpo de Edson Luís Souto, estudante morto nos braços de uma multidão sob protesto que, no fim, o deixou na escadaria da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, em 1968. A narração, que mistura alucinação e realidade, se dá em tom de desabafo a partir de uma ligação telefônica da protagonista. Nota da resenha: 6;
• “O Menino de Pijama Listrado” (2006), de John Boyne: num cenário de Segunda Guerra Mundial e de Holocausto, a história apresenta Bruno, filho de 8 anos de um militar alemão e que desconhece o extermínio judeu. Após se mudar com a família, fica intrigado com crianças “de pijama” que vivem atrás de uma cerca. Uma delas é Shmuel, menino da mesma idade com quem constrói uma amizade e vive aventuras. Nota da resenha: 6,5;
• “Dom Casmurro” (1899), de Machado de Assis: um dos romances mais famosos do autor, imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), o livro conta a história de Bentinho e Capitu desde a infância até a vida adulta. A narração, sob a perspectiva dele, mescla dúvida e ambiguidade em tons subjetivos. Mais de um século depois, a pergunta “Capitu traiu Bentinho?” permanece sem resposta e levanta debate. Nota da resenha: 8;
• “A pedra esculpida” (2008), de Guillaume Prévost: primeiro livro de uma trilogia que torna Samuel um herói. O garoto teria uma vida normal se não fossem os sumiços frequentes do pai após a morte da mãe. Quando o jovem decide procurá-lo no aniversário de 14 anos, o mistério se transforma numa aventura que perpassa locais e épocas da História. Nota da resenha: 7,5;
• “Senhora” (1875), de José de Alencar: publicado originalmente como folhetim, é um dos expoentes do Indianismo, primeira fase do Romantismo brasileiro, e conta a história de Aurélia, deixada pelo noivo, Fernando, quando era pobre. Ambicioso, o homem aspirava a se casar com uma mulher rica. Só que a protagonista recebe uma volumosa herança do avô, o que muda o rumo da história. Nota da resenha: 9;
• “Inocência” (1872), de Alfredo d’Escragnolle Taunay: romance regionalista apelidado de “Romeu e Julieta sertanejo” que apresenta a vida no sertão de Santana do Paranaíba, em Mato Grosso do Sul, na época. A obra foca no triângulo amoroso formado por Inocência, que, prometida em casamento ao negociante de gado Manecão, se apaixona por Cirino, que fingiu ser médico e salvou a jovem de 18 anos após uma doença. Nota da resenha: 7.
De acordo com a Resolução 391/2021 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), pessoas privadas de liberdade podem ler até 12 livros a cada 12 meses para diminuir a punição, chegando à remição de 48 dias, no máximo. A leitura precisa ser comprovada mediante a apresentação de uma resenha literária.
Como a coluna revelou, Flordelis também fez cursos de teologia básica, de automaquiagem e de auxiliar de enfermagem, entre outros, na prisão para eliminar 7 meses e 8 dias de pena. A conclusão do ensino fundamental e a aprovação no Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), sozinhas, lhe tiraram 5 meses e 27 dias da punição.
Após as investigações, a pastora Flordelis (PSD-RJ) foi indiciada como a mandante do crime. Contudo, devido ao foro privilegiado que tinha, ela não pôde ser presa em um primeiro momento. Os filhos do casal, no entanto, não tinham o mesmo privilégio, o que fez com que sete deles fossem presos suspeitos de participação no assassinato
Flordelis, na verdade, é mãe de 51 filhos adotivos e quatro biológicos. Pastora e cantora gospel, ela foi a deputada federal do RJ mais votada e teve a história de vida contada em um filme estrelado por Bruna Marquezine, Reynaldo Gianecchini, Rodrigo Hilbert e Deborah Secco
Em 1994, a cantora adotou 37 crianças sobreviventes da Chacina da Candelária. Junto com outros filhos que já tinha, fundou o ministério Flordelis. Dentre esses filhos, estava o pastor Anderson do Carmo, que, inclusive, também chegou a se envolver com Simone, filha biológica da pastora, antes de se casar com Flordelis
Quando oficializaram a união, Anderson tinha 17 anos. Flordelis, 33. Segundo o relato de uma testemunha, que afirma ter morado na casa com os envolvidos no crime, tanto a ex-deputada quanto o pastor tinham relações sexuais com os filhos
O assassinato de Arderson do Carmo de Souza, ocorrido na madrugada de 16 de junho, foi apontado por Flordelis, em uma primeira ocasião, como latrocínio. Contudo, segundo a polícia, a câmara de segurança da residência não apontou a presença de nenhum desconhecido na casa
Somando livros e cursos, a remição de Flordelis alcançou 254 dias – ou 8 meses e duas semanas. No entanto, a cantora gospel perdeu 12 deles devido a uma falta grave pelo uso de aparelho telefônico.
O julgamento e a vida de Flordelis na prisão
Flordelis está presa desde agosto de 2021 e cumpre pena em regime fechado na Penitenciária Talavera Bruce, localizada no Complexo de Gericinó, em Bangu, zona oeste do Rio de Janeiro. A ex-deputada federal, que teve o mandato cassado, nega ter planejado o assassinato até hoje.
Confira todos os crimes aos quais Flordelis foi condenada:
• Homicídio triplamente qualificado consumado (motivo torpe, emprego de meio cruel e recurso que impossibilitou a defesa da vítima);
• Tentativa de homicídio duplamente qualificado;
• Uso de documento ideologicamente falso (duas vezes);
• Associação criminosa armada.
Denúncia do Ministério Público (MP) aponta não só que Flordelis foi responsável por planejar o homicídio do marido, mas também por ter convencido os outros acusados a participarem do crime e a simularem um latrocínio. Além disso, foi acusada de pagar pela arma usada no crime e de ter avisado sobre a chegada de Anderson ao local do assassinato.
“O crime teria sido motivado porque a vítima mantinha rigoroso controle das finanças familiares e administrava os conflitos de forma rígida, não permitindo tratamento privilegiado às pessoas mais próximas da ex-deputada em detrimento de outros membros da família”, informou o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ).
Flordelis não foi a única da família a ser condenada pela Justiça, que constatou o envolvimento de filhos e de netos dela nos crimes. Uma das filhas biológicas, Simone dos Santos recebeu pena de 31 anos e 4 meses, em regime inicialmente fechado, por homicídio triplamente qualificado, por tentativa de homicídio qualificado privilegiado e por associação criminosa armada.
Já André Oliveira e Marzy Teixeira da Silva, filhos afetivos de Flordelis, assim como a neta Rayane Oliveira foram absolvidos. Outros cinco réus já haviam sido condenados anteriormente.
Flordelis, que chegou à fase final do concurso “Voz da Liberdade” na prisão, revelou que sofria de dependência em remédios em janeiro passado. Também disse ter ganhado peso.
Em janeiro de 2024, Flordelis, de 62 anos, e o produtor musical Allan Soares, de 24 anos, terminaram o relacionamento de 4 anos. A cantora gospel já havia pedido para se casar com ele na cadeia no ano anterior.
Por Melissa Duarte e Tácio Lorran
Fonte: metropoles.com