Em 2023, os criminosos pegaram etiquetas das malas delas e colocaram em bagagens com 40 kg de cocaína. O casal, de Goiânia, ficou 38 dias preso.
A operação Last Call (última chamada, em inglês), realizada nesta terça, teve como alvo o último integrante da quadrilha descoberta na esteira das investigações sobre o caso. Trata-se de um homem de 30 anos, que ainda não teve o nome revelado pelos investigadores.
O criminoso foi preso em um condomínio de luxo em Guarulhos, onde os federais encontraram uma grande quantidade de dinheiro vivo.
O alvo preso nesta terça (22) era responsável pela distribuição dos pagamentos dos outros integrantes da quadrilha, logística e planejamento para o envio da droga para a Europa.
Segundo a investigação, ele distribuía o trabalho entre os grupos que receberiam a droga dos traficantes, levaria para o aeroporto e colocariam no porão do avião. Era ele também que mantinha o contato com o dono da droga e com os grupos que atuavam no aeroporto.
Na época da prisão das brasileiras, os policiais desencadearam a chamada "Operação Colateral" mirando a quadrilha que operava o esquema. No total, 16 pessoas foram presas nas quatro fases da operação. Ao menos seis deles já foram condenados pela Justiça paulista com penas que variam de 7 anos a 39 anos de prisão.
Nos últimos meses, a PF se dedicava a investigar o último integrante que estava foragido.
Condenações da quadrilha
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Kátyna e Jeanne ficaram mais de um mês presas, mesmo com a Polícia Federal já tendo comprovado a inocência delas. — Foto: Montagem/g1/Reprodução/TV Globo |
Em julho do ano passado, outros seis integrantes da quadrilha foram presos. Em agosto, a Justiça de São Paulo os condenou por crimes como tráfico de drogas e associação para o tráfico.
Os dois principais chefes do grupo receberam as penas mais altas, de 39 anos e de 26 anos de prisão. A investigação apontou que eles eram responsáveis por comprar a droga que seria enviada à Europa, aliciar outros criminosos, realizar pagamentos e ceder celulares para comunicação no interior do aeroporto.
Conforme a sentença, os demais réus, que também exerciam funções de comando, atuavam na logística para a remessa da droga ao exterior, coordenando desde a chegada do material ao aeroporto até a acomodação nas aeronaves. As penas deles variam de 7 anos a 16 anos de prisão.
A investigação indicou que parte dos envolvidos trabalhava em prestadoras de serviços no terminal e ficava encarregada de aliciar colegas para a execução de tarefas como a recepção das bagagens com cocaína em áreas restritas e a realização da troca de etiquetas.
A partir do caso das brasileiras presas injustamente na Alemanha, a polícia descobriu outros crimes semelhantes cometidos pelo grupo. Em ao menos outras duas ocasiões, os criminosos mandaram 86 kg de cocaína aos aeroportos de Lisboa e Paris, entre outubro de 2022 e março de 2023.
Assim como no caso de Frankfurt, a droga foi enviada em bagagens com etiquetas trocadas e foi apreendida por forças policiais na chegada à Europa.
Presas injustamente
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Brasileiras presas na Alemanha há um mês por tráfico de drogas tiveram etiquetas das malas trocadas no aeroporto de Guarulhos — Foto: Montagem/g1 |
A viagem de 20 dias pela Europa das goianas Jeanne Paolline e Kátyna Baía acabou em prisão por tráfico internacional de drogas em 5 de março de 2023, horas antes de elas desembarcarem em Berlim, capital da Alemanha. O país seria o primeiro que elas iriam visitar, antes de seguirem para Bélgica e República Tcheca.
Uma irmã de Kátyna havia contado que elas planejaram a viagem com antecedência. O objetivo dos dias pela Europa era celebrar um novo momento da vida profissional dela. As malas delas foram despachadas em Goiânia e nunca chegaram ao país europeu.
Em Frankfurt, a última conexão antes de Berlim, a polícia apreendeu no bagageiro do avião duas malas com 20kg de cocaína cada, etiquetadas com os nomes de Jeanne e Kátyna. A prisão aconteceu na fila de embarque da conexão, sem que elas pudessem ter visto as malas.
A PF começou a investigar o caso e disse que elas eram inocentes. Vídeos obtidos pela PF mostraram quando duas mulheres chegaram ao aeroporto em São Paulo despacharam as malas com droga que levaram as brasileiras à prisão e foram embora em três minutos.
As imagens das câmeras de seguranças do Aeroporto Santa Genoveva, em Goiânia, evidenciaram o desembarque de duas malas, uma branca e uma preta, diferentes das malas onde foram encontradas a droga na Alemanha.
As malas foram despachadas no aeroporto goiano, mas no meio do caminho, no aeroporto em Guarulhos, as etiquetas foram trocadas por funcionários terceirizados que cuidavam das bagagens.
Segundo a PF, nas escalas internacionais, o passageiro despacha a mala no aeroporto de origem e só pega de volta no destino final, ou seja, Jeanne e Kátyna nem viram a troca das bagagens e das etiquetas.
Por Isabela Leite, Bruno Tavares, GloboNews e TV Globo — São Paulo
Fonte: g1