PMs não sabiam que câmeras corporais estavam gravando ao executarem suspeito rendido em operação

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[ Assista AQUI ] Via @portalg1 | Os policiais militares que atiraram no suspeito já rendido que acabou morrendo durante uma operação na noite de quinta-feira (10), na favela de Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo, não sabiam que a gravação das câmeras corporais estava ativada naquele momento.

A informação foi confirmada pela Polícia Militar na manhã desta terça-feira (15). A análise das imagens gravadas foi fundamental para determinar as prisões de dois dos agentes que participaram da ação, segundo o coronel Emerson Massera, chefe da comunicação da PM.

"O homem já estava rendido quando os policiais efetuaram os disparos. (...) A ação dos policiais foi ilegal", disse. "A ação começou completamente legítima. (...) Num determinado momento, esse homem já estava rendido quando os policiais efetivaram os disparos, sem nada que os justificasse", afirmou.

Os agentes usavam o modelo novo de câmeras corporais, em que a gravação tem que ser ativada. De acordo com o coronel, uma das câmeras foi acionada por um dos policiais — não se sabe ainda qual —, ativando automaticamente, via bluetooth, as demais. O mecanismo de ativação funciona para todas as câmeras que estiverem em um raio de 20 metros.

O modelo permite que a gravação seja acionada também pelo Centro de Operações da Polícia Militar (Copom). "Mais de 90% das ocorrências atendidas são originadas no Copom, e os policiais já vão para elas com as câmeras acionadas", afirma Massera. "O policial não consegue desligar a câmera se quiser fazer isso."

Em Paraisópolis, a câmera corporal de um dos quatro policiais militares gravou o momento em que um deles atira contra um homem já rendido. Após a execução, houve protesto marcado por vandalismo, e um outro suspeito foi morto.

Nas imagens, é possível ver ao menos três policiais entrando no quarto onde os suspeitos estavam.

Um dos homens, identificado como Igor Oliveira de Moraes Santos, aparece de mãos erguidas, em pé, encostado em uma parede. Um dos PMs realiza dois disparos contra ele, que cai no chão. Segundos depois, o policial pede para Igor se levantar. Enquanto se levanta, o agente faz outro disparo. Outro militar também atira em seguida.

Assim que realizam os disparos, os PMs gritam: "As COP, as COP, as COP". COP é a sigla para câmeras operacionais portáteis, ou seja, as câmeras corporais utilizadas nas fardas dos agentes.

As câmeras foram acionadas depois dos disparos. Porém, o sistema possui um recurso de retroação em 90 segundos. Assim, foram registradas as imagens do que ocorreu um minuto e meio antes do acionamento.

Dessa forma, foi possível analisar o que as câmeras captaram na hora dos tiros. Igor Oliveira foi baleado quatro vezes. Ele não estava armado e já tinha sido rendido.

As imagens desmentiram a versão oficialmente apresentada pelos policiais após a ocorrência — eles haviam relatado troca de tiros com os suspeitos, o que não se confirmou pelas gravações.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) disse que "dois policiais militares foram presos em flagrante por homicídio doloso, após as imagens das câmeras corporais — utilizadas por todos os agentes — demonstrarem que eles efetuaram disparos contra um suspeito já rendido. Outros dois PMs também foram indiciados, por apresentarem versões incompatíveis com as imagens registradas".

O homicídio doloso (quando há intenção de matar) será investigado em um inquérito que tem prazo de 20 dias e poderá ser prorrogado por mais 40 dias. Ao final da investigação, as imagens das câmeras corporais serão liberadas.

Os quatro suspeitos estavam fugindo e tinham entrado na casa de um morador que não tinha qualquer envolvimento com a ação quando a polícia chegou. Com eles, foram apreendidas três armas de fogo, carregadores, drogas, dinheiro e celulares.

Três homens que também estavam na casa foram presos. Dois deles não tinham passagens criminais.

Massera ressaltou que a corporação não compactua com erros de policiais e que foi determinada uma apuração rigorosa sobre o episódio. "Foram condutas criminosas", acrescentou. "Reconhecemos nosso erro e os policiais já estão sendo responsabilizados e vão responder por isso", disse. Segundo ele, "houve o erro do policial, não falta de treinamento ou preparo".

Protesto após execução

Após a morte de Igor, moradores da região promoveram um protesto que ficou marcado por tumulto. Um grupo de pessoas foi flagrado atacando ao menos cinco motoristas nos arredores da Avenida Giovanni Gronchi, no Morumbi, bairro vizinho à comunidade.

Durante as manifestações, uma pessoa foi presa e outra foi morta. O nome da vítima é Bruno Leite, de 29 anos.

O Globocop, da TV Globo, registrou com exclusividade homens armados com pedaços de madeira e pedras arremessando objetos contra veículos nas ruas do entorno da favela. Um dos carros chegou a ser empurrado e tombado. O grupo fugiu com a chegada das viaturas da PM.

Foram quase quatro horas de tumulto. Um sargento da Rota foi baleado no ombro e está fora de perigo, mas terá de passar por cirurgia. Três viaturas foram danificadas.

Área próximo à favela de Paraisópolis em que grupos atacaram motoristas na noite de quinta-feira (10) — Foto: Reprodução/TV Globo

PMs circulando por Paraisópolis. — Foto: Reprodução/ TV Globo

O que diz a Secretaria da Segurança Pública

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública afirmou que o caso está sendo investigado pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP).

"A equipe da unidade já recebeu as imagens das Câmeras Operacionais Portáteis (COPs), utilizadas pelos policiais militares envolvidos na ocorrência, que estão sendo analisadas para contribuir com o esclarecimento dos fatos", disse.

Acrescentou ainda que "dois policiais militares foram presos em flagrante por homicídio doloso, após as imagens das câmeras corporais — utilizadas por todos os agentes — demonstrarem que eles efetuaram disparos contra um suspeito já rendido. Outros dois PMs também foram indiciados, por apresentarem versões incompatíveis com as imagens registradas".

A pasta afirmou que "as prisões e os indiciamentos foram realizados pela Polícia Judiciária Militar, responsável pelo acesso imediato às gravações das COPs, no âmbito do Inquérito Policial Militar (IPM) instaurado paralelamente à investigação conduzida pela Polícia Civil".

Grupo ataca motorista e tomba carro no Morumbi, Zona Sul de SP — Foto: Reprodução/TV Globo

Grupo da região do Morumbi ateia fogo para bloquear rua — Foto: Reprodução/TV Globo

Apreensões feitas pela PM na favela de Paraisópolis em Morumbi, na Zona Sul de SP — Foto: Divulgação/PM

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Por Patrícia Marques, Lucas Jozino, TV Globo e g1 SP — São Paulo
Fonte: g1

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