As matérias mostravam carrões, uma mansão e procurações de laranjas para que ele atuasse junto ao órgão em nome de entidades suspeitas. Naquele dia, uma delas revelava um pagamento de R$ 1 milhão para esta finalidade. Mas o ponto que lhe tirou a calma era outro. Ele não gostava, mesmo, de ser chamado de “Careca do INSS“.
A alcunha foi atribuída por quem conhecia sua atuação de dentro das entidades. As pessoas chamavam Antunes pelo apelido por considerarem que era tão próximo de dirigentes do órgão que poderia ter sido até servidor dele — o que não era verdade.
Motivo de orgulho nos bastidores, a alcunha era indesejada por ele no noticiário. Tratou de fazer um périplo por Brasília em busca de advogados criminalistas dispostos a processar quem evocasse o “careca” no noticiário. Em reuniões, espalhou até uma notícia de jornal, que considerava ser um precedente a seu favor no Judiciário.
O problema é que a decisão usada como trunfo pelo lobista não era brasileira. Era de um Tribunal do Trabalho Inglês. Ele mostrou a advogados uma notícia segundo a qual juízes britânicos haviam decidido que um empregador deveria ser condenado por chamar um funcionário de “careca babaca”.
Os magistrados consideraram que a ofensa configurava também assédio sexual. Compararam o caso a outro sobre uma mulher alvo de comentários de um gerente da empresa para a qual trabalhava em razão do tamanho de seus seios.
Quem leu o texto respondeu que não parecia fácil usar o precedente inglês nas cortes brasileiras. A estratégia de processar mencionando a alcunha como ofensa não deu certo. Recentemente, Antunes moveu uma ação nesses termos contra um jornalista e perdeu.
E o apelido pegou, não só para o público e jornalistas. A Polícia Federal (PF) também passou a chamar Antonio Carlos Camilo Antunes de “Careca do INSS”, ao investigá-lo pelo pagamento de propinas a ex-diretores do INSS, em nome das entidades.
De boné, ele foi preso nesta sexta-feira (12/9) em uma investigação sobre suposto embaraço às investigações da Operação Sem Desconto, que investiga a farra dos descontos indevidos sobre aposentados pelo INSS.
Por Luiz Vassallo
Fonte: metropoles.com