
“Querendo ou não vai ficar aquela sensação de: 'Pô, ele tá aqui, vai ter represália'. Não sei se isso é a dele (do soldado da PM), mas fica essa sensação, né?”, disse Raphael. Para ele, a liminar não é saudável para a população e até mesmo para o soldado da PM e a instituição. “Quem tem envolvimento vai acabar sentindo medo. Isso é o que eu acho mais preocupante. Nem é parte da decisão da justiça a favor dele, mas sim o efeito dessa decisão”, complementou.
Para Miranda, a decisão da juíza Eliana Cassales Tosi de Mello, da 5ª Vara Criminal de Justiça de São Paulo, que concedeu liberdade provisória ao PM, foi técnica, mas deixa uma sensação de injustiça. “Por muito menos, a gente tem outras pessoas que estão presas por aí, aguardando julgamento, aguardando investigação por tempos afora.”
O soldado foi preso na noite em que matou Carlos Augusto, porém, no dia seguinte, a juíza atendeu pedido de liminar e determinou a liberdade provisória. Ele foi libertado na segunda-feira (22).
A assessoria de Comunicação da Polícia Militar do Estado de São Paulo não respondeu por quanto tempo o soldado Araújo ficará afastado de suas funções, limitando-se a dizer que ele foi apresentado ao Centro de Apoio Social da PM, onde estaria frequentando o Programa de Acompanhamento e Apoio ao policial militar.
O advogado disse que aguarda a conclusão do inquérito policial para prosseguir com o processo. “Na esfera civil, ainda não foi dado início, mas a gente está considerando até mesmo utilizar o que for coletado, o que a gente conseguir na esfera criminal, o que estiver no inquérito e utilizar na parte civil, para a reparação. É uma caminhada longa”, finalizou.
A passeata de ontem em repúdio à morte de Carlos Augusto foi organizada pela viúva, Claudiane Silva Lopes, e amigos do vendedor piauiense. Aproximadamente cem pessoas percorreram as ruas da Lapa carregando cartazes e faixas pedindo justiça e gritando palavras de ordem contra a Polícia Militar.
De longe, seis viaturas da corporação acompanhavam o ato. Outros agentes fizeram bloqueio para os veículos nos principais trechos por onde o ato percorreu.
Os manifestantes pararam rapidamente em frente à sede da Subprefeitura da Lapa, na rua Guaicurus, e mais adiante uma outra, mais longa, na rua 12 de Outubro, local onde ocorreu o homicídio. Ali foram acesas velas e respeitado um minuto de silêncio.
Um dos amigos da vítima, o também vendedor ambulante Valdir Severino, de 41 anos, carregou um cartaz com os dizeres "PM despreparado mata mais um trabalhador” e disse que conhecia Carlos Augusto havia dez anos e que eram muito próximos.
O vendedor também comentou sobre a fatídica tarde para Carlos Augusto. “Quando fui ligar para o Augusto, quem atendeu foi a Claudiane. Aí ela disse: 'Atiraram no Augusto, atiraram no Augusto'. Aí, meu Deus, eu entrei em desespero também. E eu fiquei por ali esperando as notícias, até que à noite, assistindo televisão, vi que ele tinha falecido”, lamentou.
O pernambucano Severino, há mais de 20 anos ambulante na Lapa, reclamou do comportamento dos policiais militares nos últimos meses. “Eles se acham os heróis da rua, querem ficar combatendo e querem sempre sair por cima da gente, e tem que ser do jeito deles. Mas o camelô existe desde o começo do mundo, não tem como tirar o camelô da rua. Só se acabar o mundo”, disse, acrescentando que a PM não foi feita para perseguir trabalhador, mas sim para combater o crime. "Agora eles tão combatendo o trabalhador”, desabafou.
O Fórum dos Ambulantes da Cidade de São Paulo, que esteve representado no ato de ontem, convocou nova manifestação para 1º de outubro, em frente à Câmara Municipal, em repúdio ao assassinato de Carlos Augusto e à violência policial contra os ambulantes. Também vão contestar a possibilidade de a prefeitura mobilizar efetivo da Guarda Civil Metropolitana para fiscalizar o comércio ambulante.
Fonte: redebrasilatual.com.br