http://goo.gl/pR4e5B | A onda de execuções de negros por policiais brancos nos Estados Unidos é mais uma manifestação do racismo entranhado na sociedade americana. Pior ainda, é o fato de que os tribunais americanos absolvem sistematicamente os policiais e às vezes nem os processam. Eleger um presidente mulato – que nos Estados Unidos é considerado negro – está longe de ter acabado com as discriminações. O próprio Obama que o diga.
Só que os americanos não tem o monopólio do racismo. Até no nosso antropofágico e mestiço Pindorama, a grande maioria da população do nosso horroroso sistema penitenciário é negra.
A França está em estado de choque depois da agressão de um casal e o estupro da mulher só porque eram judeus. O antissemitismo tem uma longa tradição que agora está se combinando com o ódio aos judeus de uma parte da juventude de origem árabe que, por sua vez, é vitima de exclusões e violências policiais indiscriminadas. Sem falar no antissemitismo explícito de movimentos que defendem a dignidade negra. É: a cada um seu saco de pancadas. Hoje, na Europa, com a crise econômica, os partidos e movimentos racistas, xenófobos e chauvinistas andam de vento em popa.
Mas os problemas não vêm só dos “branquelas” das ex-potências coloniais. No resto do mundo, a situação é até pior.
Na África, guerras e massacres étnicos são corriqueiros. No Oriente Médio, o ódio comunitário se mistura com a violência religiosa e o fanatismo sangrento numa explosão de crimes contra a humanidade. Na Índia, os fundamentalistas hinduístas só pensam em exterminar os muçulmanos, e as autoridades han chinesas estão esmagando qualquer expressão das populações autóctones no Tibete ou do Xing Kiang. O Japão é incapaz de viver tranquilamente com os imigrantes coreanos e a Rússia de Putin fica atiçando o rancor das minorias pró-russas para desestabilizar os países vizinhos. E por aí vai: o racismo é um dos sentimentos mais partilhados e instrumentalizados no universo.
A questão, portanto, não é condenar essa praga com argumentos morais. Claro, é sempre necessário proclamar e repetir de maneira permanente que o racismo e a xenofobia são absolutamente incompatíveis com a vida civilizada e com todos os valores do ser humano. Mas pelo visto, isso não basta nem nunca bastou. Combater esse flagelo tão bem distribuído pelo mundo e pela sociedade requer instituições fortes, um estado de direito que defenda os cidadãos, e políticos e líderes corajosos decididos a enfrentar de cara a perversidade desses populismos macabros.
É claro que toda sociedade se constrói designando bodes expiatórios. E que, em períodos de crise, sempre tenta jogar a culpa num “outro” visto como responsável por todas as nossas mazelas.
Na América Latina, terra de exponencial violência urbana e de guerras civis sem fim, o culpado é sempre o “imperialismo americano”, cômodo pretexto para tirar o corpo fora de qualquer responsabilidade. Na África é o neo-colonialismo e não as cleptocracias no poder, e na Ásia há sempre um vizinho para odiar e se preparar para a guerra.
Para tentar marginalizar essa cultura do bode expiatório é preciso conclamar que crime é crime, seja ele de origem racista, xenófoba ou simplesmente crapuloso. E contra o crime existem leis que devem ser aplicadas. Argumentar que assassinar, torturar, estuprar por motivos racistas é mais grave do que por puro ódio ou ganância é uma maneira de reduzir a responsabilidade do criminoso comum e do ato criminoso em si.
O crime hediondo “comum” tem que ser julgado e punido com a mesma severidade que o crime hediondo racista. Senão, é o estado de direito que acaba sendo fagocitado pela lógica racista: o policial branco que matou o jovem negro em Ferguson só pode ou ser absolvido, porque a justiça tem um viés racista, ou condenado a uma pena mais dura do que um assassino comum por um júri anti-racista que se determina também por esse motivo. Nada disso reforça a lei e a necessidade de aprimorar ainda mais o funcionamento da Justiça e a sua imparcialidade. Denunciar o racismo e todo tipo de discriminação é absolutamente necessário, mas ter peito e vontade para aplicar seriamente a lei e o estado de direito também.
Por Alfredo Valladão
Fonte: portugues.rfi.fr
Só que os americanos não tem o monopólio do racismo. Até no nosso antropofágico e mestiço Pindorama, a grande maioria da população do nosso horroroso sistema penitenciário é negra.
A França está em estado de choque depois da agressão de um casal e o estupro da mulher só porque eram judeus. O antissemitismo tem uma longa tradição que agora está se combinando com o ódio aos judeus de uma parte da juventude de origem árabe que, por sua vez, é vitima de exclusões e violências policiais indiscriminadas. Sem falar no antissemitismo explícito de movimentos que defendem a dignidade negra. É: a cada um seu saco de pancadas. Hoje, na Europa, com a crise econômica, os partidos e movimentos racistas, xenófobos e chauvinistas andam de vento em popa.
Mas os problemas não vêm só dos “branquelas” das ex-potências coloniais. No resto do mundo, a situação é até pior.
Na África, guerras e massacres étnicos são corriqueiros. No Oriente Médio, o ódio comunitário se mistura com a violência religiosa e o fanatismo sangrento numa explosão de crimes contra a humanidade. Na Índia, os fundamentalistas hinduístas só pensam em exterminar os muçulmanos, e as autoridades han chinesas estão esmagando qualquer expressão das populações autóctones no Tibete ou do Xing Kiang. O Japão é incapaz de viver tranquilamente com os imigrantes coreanos e a Rússia de Putin fica atiçando o rancor das minorias pró-russas para desestabilizar os países vizinhos. E por aí vai: o racismo é um dos sentimentos mais partilhados e instrumentalizados no universo.
A questão, portanto, não é condenar essa praga com argumentos morais. Claro, é sempre necessário proclamar e repetir de maneira permanente que o racismo e a xenofobia são absolutamente incompatíveis com a vida civilizada e com todos os valores do ser humano. Mas pelo visto, isso não basta nem nunca bastou. Combater esse flagelo tão bem distribuído pelo mundo e pela sociedade requer instituições fortes, um estado de direito que defenda os cidadãos, e políticos e líderes corajosos decididos a enfrentar de cara a perversidade desses populismos macabros.
É claro que toda sociedade se constrói designando bodes expiatórios. E que, em períodos de crise, sempre tenta jogar a culpa num “outro” visto como responsável por todas as nossas mazelas.
Na América Latina, terra de exponencial violência urbana e de guerras civis sem fim, o culpado é sempre o “imperialismo americano”, cômodo pretexto para tirar o corpo fora de qualquer responsabilidade. Na África é o neo-colonialismo e não as cleptocracias no poder, e na Ásia há sempre um vizinho para odiar e se preparar para a guerra.
Para tentar marginalizar essa cultura do bode expiatório é preciso conclamar que crime é crime, seja ele de origem racista, xenófoba ou simplesmente crapuloso. E contra o crime existem leis que devem ser aplicadas. Argumentar que assassinar, torturar, estuprar por motivos racistas é mais grave do que por puro ódio ou ganância é uma maneira de reduzir a responsabilidade do criminoso comum e do ato criminoso em si.
O crime hediondo “comum” tem que ser julgado e punido com a mesma severidade que o crime hediondo racista. Senão, é o estado de direito que acaba sendo fagocitado pela lógica racista: o policial branco que matou o jovem negro em Ferguson só pode ou ser absolvido, porque a justiça tem um viés racista, ou condenado a uma pena mais dura do que um assassino comum por um júri anti-racista que se determina também por esse motivo. Nada disso reforça a lei e a necessidade de aprimorar ainda mais o funcionamento da Justiça e a sua imparcialidade. Denunciar o racismo e todo tipo de discriminação é absolutamente necessário, mas ter peito e vontade para aplicar seriamente a lei e o estado de direito também.
Por Alfredo Valladão
Fonte: portugues.rfi.fr