Juiz expulsa réus e plateia de sessão em audiência de 23 ativistas no Rio

http://goo.gl/MUkyA3 | O juiz Flávio Itabaiana expulsou réus e plateia que assistiam à sessão do processo de acusados de envolvimentos em atos violentos durante manifestações, na tarde desta quinta-feira (5), no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. O grupo foi retirado da sala após fazer gestos de punhos cerrados. Somente advogados, promotores e imprensa puderam ficar no local.

O tumulto começou ao fim do depoimento de Igor Mendes da Solva, um dos acusados no processo. O réu fez um gesto de punhos cerrados em direção ao plenário e foi acompanhado por parte das pessoas que assistiam aos depoimentos. O juiz Flávio Itabaiana pediu então que todos fossem retirados, pois ele já tinha advertido em, uma sessão anterior, que não poderiam acontecer manifestações políticas.

A decisão foi seguida de protestos da plateia. O advogado de Igor, Marino D'Icarahy, acusou o magistrado de abuso de autoridade e falta de caráter. O juiz, em resposta, afirmou que quem teria problemas de caráter seria Marino. Policiais militares que fazem a segurança da casa conduziram o grupo para fora do plenário, sem resistência.

A Justiça começou a ouvir, nesta quinta, os acusados de envolvimento em atos violentos durante as manifestações entre junho de 2013 e julho de 2014 no Rio. Os cinco primeiros réus chamados a prestar depoimento, por volta das 15h15h, permaneceram em silêncio.

Entre eles Fábio Raposo Barbosa e Caio Silva de Souza – presos pela morte do cinegrafista Santiago Andrade –, Luiz Carlos Rendeiro da Silva e Gabriel da Silva Marinho, que respondem em liberdade. Igor Mendes da Silva, preso por desobedecer uma medida cautelar de habeas corpus, optou pelo silêncio num primeiro momento, mas recuou e decidiu depôr.

Acusações

Após os cinco acusados terem permanecido em silêncio, os réus restantes entraram em plenário e o juiz Flávio Itabaiana leu as acusações que pesam contra eles: a depredação de patrimônio público e privado, uso de violência contra outros cidadãos, principalmente agentes públicos; lesões corporais e corrupção de menores, incitando-os a praticar atos ilícitos.

O primeiro a falar diante do juiz foi o estudante Leonardo Fortini Baroni Pereira. Quando perguntado sobre as acusações a ele imputadas, Leonardo afirmou que elas são falsas e tem como objetivo desqualificar as manifestações.

Respondendo às questões feitas pelo promotor do caso, Leonardo afirmou que o objetivo dos movimentos estudantis dos quais participa é ajudar a população a defender seus direitos. Questionado se cometeu atos de violência nas manifestações de 2013, ele afirmou que foi vítima de violência.

"O ato de violência que sempre vi nas manifestações sempre veio do Estado," afirmou o réu, que negou participação na queima de ônibus e outros atos de vandalismo, como o uso de coquetéis molotov.

Leonardo afirmou que sempre viu nas manifestações a violência da polícia contra a população e que procurava se defender. Ele afirmou ainda não ter nenhuma relação com Elisa Quadros, a Sininho, apontada como uma das líderes do movimento.

Respondendo ao advogado de defesa, Marino D'Icarahy, Leonardo contou que um tio seu o denunciou por ter 30 explosivos "cabeções-de-nego" em um armário na casa onde vive. O réu afirmou que os artefatos eram usados em festas juninas promovidas pela família. Ele afirmou ainda ter má relação com o tio, o que teria motivado a denúncia feita pelo familiar.

Réu desiste de silêncio

Após ficar em silêncio em um primeiro momento, Igor Mendes da Silva voltou ao plenário para prestar depoimento. Ele confirmou fazer parte da Frente Independente Popular Estudantil (Fipe) e do Movimento Estudantil Popular Revolucionário (MEPR), acusados de terem lideranças envolvidas em atos de violência. Ele afirmou que ambos os movimentos têm caráter pacífico.

"Todas as atividades são abertas, sem nenhuma relação com atos violentos," afirmou Igor.
Ele também negou envolvimento com o Movimento Ocupa Câmara. Igor afirmou ainda que os atos de violência que presenciou teriam sido iniciados pela polícia, que estaria tentando "dissolver" as manifestações.

O universitário também confirmou que manteve contato telefônico com Elisa Quadros após ela ser presa. Segundo ele, seu objetivo era dar apoio emocional diante do que ele chamou de "campanha negativa" promovida imprensa quanto à imagem da ativista. "Elisa é uma pessoa apaixonada pelo que faz e por ideias”, definiu Igor. No entanto, ele afirmou que não seria capaz de definir a orientação ideológica da jovem foragida.

O réu reclamou do transporte dos presos ao tribunal, afirmando que é superlotado e sem nenhum canal de ventilação. Ele reclamou ainda de supostas arbitrariedades cometidas ao longo do processo, como a obrigatoriedade do uso de algemas mesmo sem ter oferecido resistência e uma suposta tentativa de tomar seu depoimento sem a presença de um advogado.

Igor ainda afirmou que "a tortura é regra no sistema penitenciário." Ele acusou o presídio de ser "um centro de tortura" e comparou a penitenciária a um campo de concentração.

A mãe do acusado chorou durante boa parte do depoimento. Mesmo sem representar o réu, o advogado José Carlos Tortima perdiu permissão para se pronunciar e disse ao juiz que Igor não merecia estar preso.

Terceiro depoimento

André de Castro Sanchez Basseres foi o terceiro acusado a prestar depoimento que não ficou em silêncio. Ele negou a acusação de que teria a função de levar explosivos para as manifestações. "Eu nunca tomei parte em ações violentas e nunca me fizeram nenhuma proposta neste sentido. Se alguma pessoa próxima a mim fez parte disso, eu ficaria bem surpreso," afirmou Andre.

O jovem contou que acreditava que a acusação contra ele se devia a Felipe Brás, ex-namorado de uma amiga que teria a agredido e, posteriormente, sofrido represália de um grupo feminista do qual ela pertencia. Felipe teria pedido ajuda a ele, que o teria aconselhado a se retratar. Por isso, André acredita que foi denunciado por ressentimento.

"Eu nunca fiquei na linha de frente de protestos, tanto por falta de coragem quanto por problemas respiratórios", disse.

André confirmou conhecer Elisa Quadros, mas somente superficialmente. André confirmou fazer parte da Ação Anarquista Terra e Liberdade (AATL). Ele negou fazer parte da Fipe, apesar de conhecer alguns membros que faziam parte da organização.

Pedido de adiamento

Inicialmente, o advogado Marino D'Icarahy, que defende 11 dos 23 réus do processo, pediu o adiamento dos depoimentos. Segundo ele, os acusados não podem falar antes do depoimento completo do policial militar Maurício Alves da Silva, da PM do Distrito Federal.

D'Icarahy afirma que pediu o adiamento em proteção dos seus clientes. Ele afirma que o PM, que teria trabalhado infiltrado em meio aos manifestantes, não respondeu as perguntas feitas pela defesa, após três horas de depoimento.

"Pela gravidade das acusações que eles fazem aos meus clientes, ele não pode ser ouvido depois dos acusados, pois esta e a única chance que eles têm para se defender," afirmou D'Icarahy.

O advogado pediu que a sessão fosse marcada para depois do dia 27 de março, para quando a continuidade do depoimento do PM foi marcada. O pedido foi indeferido pelo juiz Flávio Itabaiana, responsável pelo caso.

3 presos e 2 foragidas

Entre os 23 acusados, duas mulheres estão foragidas desde dezembro. Elisa Quadros, a manifestante conhecida como Sininho, e Karlayne Moraes da Silva Pinheiro, conhecida como Moa. Ambas tiveram a prisão pedida após terem desrespeitado medida cautelar que as impedia de participar de protestos, quando participaram de um evento cultural em outubro.

Igor Mendes da Silva também foi preso pelo mesmo motivo e compareceu à audiência.

Também estão na cadeia e foram escoltados ao tribunal Caio Silva de Souza e Fábio Raposo, presos desde fevereiro de 2014, acusados de terem sido responsáveis pela morte do cinegrafista Santiago Andrade, atingido por um rojão durante um protesto na Central do Brasil.

Fonte: g1.globo.com
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