Escola é lugar de polícia? Pais e educadores não chegam a consenso - Por Kaique Dalapola

goo.gl/S2yYvq | Periferia de Brasília (DF). Enquanto alunos de uma escola da rede pública praticam educação física, uma equipe da polícia entra no local, autorizada pela diretora.

Um delegado havia recebido denúncias contra um estudante do segundo ano do ensino médio. Posteriormente, os alunos poderiam ser revistados assim que voltassem para as classes. Um pacote de cocaína é encontrado na sala onde o aluno estudava.

O que se segue é uma discussão em que não há consenso: a entrada da polícia em ambiente escolar deve ser autorizada? Ou a sala de aula é inviolável e deve ser respeitada?

Esse é um dos temas do livro ‘Desafios reais do cotidiano escolar brasileiro’, organizado pela professora sênior na Faculdade de Educação da Universidade de Harvard, o qual descreve 22 dilemas vividos por diretores, coordenadores e professores em escolas de todo o Brasil.

Na ocasião descrita pela coordenadora pedagógica, a diretora e professores da escola, o corpo docente não foi avisado, tampouco os demais funcionários. Quando a aula de educação física acabou e os alunos tiveram que voltar para sala, foram todos revistados. Nada mais foi encontrado.

A partir dessa situação, o debate surgiu na comunidade escolar. Alguns pais, um funcionário da limpeza e até mesmo professores concordaram com a medida adotada pela professora, sem comunicar ninguém, de permitir a presença da polícia em uma ação dentro da escola.

Alguns outros pais e professores, no entanto, se indignaram pelo fato de os adolescentes serem revistados pela polícia dentro de um ambiente escolar. Sobre a falta de comunicação da diretora à comunidade escolar, a gestora disse que a polícia também desconfiava de possível envolvimento de funcionários na presença da droga na escola — por isso não poderia ter divulgado a ação policial antes.

Para o mestre em ensino da ciência e doutorando em educação Osvaldo Souza, “a polícia não pode estar na escola de jeito nenhum”. Professor de escola pública há 15 anos, Souza afirma que o debate sobre a presença da polícia em ambiente escolar só acontece em escolas que atendem à população mais pobre.

De acordo com o professor, a escola é um ambiente em que os alunos devem ficar “tranquilos, focados em aprender e se relacionar” e a presença da polícia seria uma forma de “tentar controlar e intimidar os estudantes” — o que prejudica as questões pedagógicas.

Sobre o uso e comércio de drogas, o professor Souza afirma que é um problema da juventude enfrentado dentro e fora das escolas. Segundo ele, a questão — sejam as ilícitas ou as drogas legais, como o álcool — deve ser trabalhada fora das escolas para refletir no ambiente escolar.

“Esse é um problema que é muito maior, por que as políticas são sempre de tentar resolver na escola, mas permite o uso e comércio fora. Não se pode armar uma política que ele não entre na escola com drogas, mas ignora que fora o adolescente vai usar, vai vender e vai ter com facilidade.”

Violência na escola


Em outro ponto abordado no livro, um questionamento que seria fácil de ser respondido: Escola é lugar de agressão? A própria obra responde que “independentemente do grupo a que essa pergunta fosse feita, a resposta seria unânime: não”.

Dados obtidos pelo R7, via Lei de Acesso à Informação, apontam que entre 2014 e 2017, somente nas escolas estaduais de São Paulo, foram registrados 50.448 casos de violência — entre ameaças, agressões verbais ou físicas, e outros tipos de violência.

O debate sobre a presença da polícia nas escolas também entra em pauta como forma de evitar a violência. No entanto, há casos também que a presença de policiais são os motivos de episódios de agressões dentro de ambiente escolar.

No mês de maio deste ano, um estudante de uma escola pública da cidade de Pirajuí, a 400 km de São Paulo, foi pivô de um episódio de violência. Na ocasião, segundo a estudante Ana*, 15 anos, um conhecido policial militar do município estava na escola — como é de costume na unidade.

Um grupo de estudantes, brincando com a presença do policial no local, teria ofendido e mostrado dedo para o PM. Incomodado com as supostas provocações dos adolescentes, o policial militar teria ido abordar o aluno e, depois de uma breve discussão, o policial o agrediu.

A ação também gerou discussão entre a comunidade escolar. Até mesmo os alunos se dividiram sobre o caso de violência. Para Ana, que é aluno do primeiro ano do ensino médio da escola, a presença do policial “não incomoda ninguém, mas chama atenção dos meninos que querem provocar”.

Para o professor Souza, a questão da violência é causada pelo mesmo problema que o consumo de drogas, que é a questão social enfrentada sobretudo pela parcela mais pobre da sociedade, e que tem dificuldades no diálogo.

*Nome fictício para preservar a identidade do aluno

*(Foto meramente ilustrativa: reprodução Internet)

Por Kaique Dalapola
Fonte: noticias.r7.com

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