Mulheres ganham 79% da renda dos homens, mesmo estudando e trabalhando mais

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Via @uolnoticias | As mulheres trabalham, em média, 2,3 horas a mais que os homens, por semana, somando trabalhos remunerados, afazeres domésticos e cuidados de pessoas. Ainda assim, e com um nível educacional mais alto, elas ganham, em média, 78,9% do rendimento deles. As informações fazem parte do estudo Estatísticas de Gênero, divulgado hoje pelo IBGE.

O que aconteceu

• Em 2022, as mulheres trabalharam 54,4 horas por semana, e os homens, 52,1 horas. A maior desigualdade foi na região Nordeste (4,2 horas semanais a mais para as mulheres). As mulheres que enfrentam a maior carga de trabalho são as do Sudeste (55,3 horas semanais).

• Em seis anos, diferença cai apenas 36 minutos. Na pesquisa anterior, em 2016, as mulheres trabalhavam as mesmas 54,4 horas semanais, enquanto os homens trabalhavam 2,9 horas a menos, (51,5 por semana).

• Peso do trabalho de cuidado contribui para a diferença na carga total. Mulheres dedicam quase o dobro do tempo a cuidados de pessoas ou afazeres domésticos. Elas gastaram, em média, 9,6 horas semanais a mais com essas atividades em 2022. Foram 21,3 horas por semana para elas e 11,7 horas para eles.

• A diferença também vem caindo lentamente nesse caso. Na pesquisa de 2016, as mulheres dedicavam, em média, 18,1 horas semanais a esses cuidados e afazeres. Os homens, 10,5. Ou seja, todos estão gastando mais tempo com trabalhos domésticos, mas a diferença caiu para 7,6 horas.

• Carga de trabalho doméstico e de cuidado é maior para mulheres pretas e pardas. Esse grupo da população é o que trabalha mais tempo por semana nessa atividade (22 horas), com as mulheres brancas em seguida (20,4 horas). Dentre os homens, a raça não muda a carga de trabalho. Tantos brancos quanto pretos ou pardos gastam 11,7 horas por semana com trabalhos do tipo.

• Os pesquisadores acreditam ainda que há uma subestimação desses dados. Atividades simultâneas, como cuidar de uma criança e arrumar a casa ao mesmo tempo, por exemplo, não são investigadas. Em 2016, eram respectivamente 21,4 e 20,7 horas.

Cuidado afeta presença das mulheres no mercado

• Responsabilidade por afazeres afeta inserção das mulheres no mercado de trabalho. Em 2022, a taxa de participação feminina na força de trabalho era de 53,3%, enquanto a masculina era de 73,2%, uma diferença de 19,9 pontos percentuais. Esse dado se refere a pessoas que estavam trabalhando ou em busca de emprego.

• Presença feminina volta a subir após queda na pandemia. A participação das mulheres cresceu de 2012, quando começa a série histórica da pesquisa, até 2019 (de 52,5% para 55,4%). Em 2020, em razão dos efeitos da pandemia da covid-19, houve queda para 50,1%, mas o índice voltou a crescer em 2022.

• Mais mulheres em trabalhos de meio período. As demandas domésticas também explicam, em parte, a proporção de mulheres em trabalhos de até 30 horas semanais ser quase o dobro da de homens (28% contra 14,4%). O dado é semelhante ao registrado seis anos antes (28,2% contra 14,1%).

"Como o dia só tem 24 horas e as mulheres estão dedicando mais horas a cuidados e afazeres, sobra menos tempo para elas se inserirem no mercado de trabalho. Na ausência de redes de apoio institucionais, como escolas em tempo integral e serviços de assistência, as mulheres acabam tendo uma participação menor no mercado de trabalho. Isso é histórico." — Barbara Cobo, coordenadora-geral do estudo do IBGE

• Ter filho pequeno restringe presença das mulheres no mercado. De acordo com o IBGE, em 2022, a diferença no nível de ocupação entre mulheres sem filhos e aquelas com crianças de até 6 anos era de 9,6 pontos percentuais. Para mulheres pretas e pardas com filhos pequenos, a diferença era ainda maior: 10,7 pontos percentuais.

• Por outro lado, homens com filhos têm maior nível de ocupação. O nível de ocupação entre aqueles com filhos de até 6 anos foi maior do que entre aqueles que não tinham filhos. No Brasil, pouco mais de um terço das crianças de 0 a 3 anos de idade frequentavam creche em 2022.

Maioria no ensino superior, mas minoria na tecnologia

• Mulheres são maioria no ensino superior, mas minoria em cursos de engenharia e tecnologia da informação. Conforme o estudo, em 2022, elas correspondiam a 60,3% dos estudantes que concluiriam cursos presenciais de graduação naquele ano. Nos cursos de ciências, tecnologia, engenharia, matemática e programas interdisciplinares abrangendo essas áreas, porém, elas eram apenas 22% dos concluintes.

• Fatia feminina em áreas de ciência e tecnologia caiu em dez anos. Esse percentual é inferior ao registrado em 2012, quando as mulheres representavam 23,2% dos concluintes desses cursos. A área com menor participação feminina é a de computação e tecnologia —apenas 15% dos concluintes, menos do que em 2012 (17,5%). Das áreas de exatas, a única em que a fatia feminina cresceu foi ciências físicas, indo de 48% para 50,6%.

• Mesmo com maior instrução, as mulheres ocupam menos cargos de liderança e recebem salários menores. De acordo com o IBGE, em 2022, elas ocupavam apenas 39,3% dos cargos gerenciais — eram 39,1% em 2016. Essa assimetria entre os gêneros se acentua ao longo da trajetória de vida da mulher, impactando em sua remuneração e aposentadoria.

Mulheres ganham só 79% do rendimento dos homens

• Mesmo estudando e trabalhando mais, as mulheres ainda recebem só 78,9% do rendimento dos homens. Enquanto o brasileiro recebe, em média, R$ 2.920 mensais, a brasileira ganha R$ 2.303.

• A discrepância vem diminuindo desde 2012, quando foi feita a primeira pesquisa. Na época, a renda das mulheres era 73,7% a dos homens, proporção que cresceu para 76,5% em 2016.

• Mulheres ganham menos em quase todas as categorias de cargos listadas pela pesquisa. A menor diferença foi registrada em ocupações de baixa qualificação, chamadas de elementares, em que elas recebem 88,1% do salário deles (R$ 1.156 e R$ 1.313). Na outra ponta estão as profissões das ciências e intelectuais, nas quais a renda das mulheres é 63,3% a dos homens (R$ 4.600 e R$ 7.268)

• Desigualdade também no topo das empresas. Nos cargos mais altos, de diretores e gerentes, as mulheres recebiam 73,9% da renda dos homens (R$ 7.948 para eles e R$ 5.870 para elas). A única exceção é a categoria Forças Armadas, policiais e bombeiros militares, única categoria em que as mulheres recebem mais que os homens (R$ 5.976 e R$ 6.516).

Mulheres são 53% do eleitorado, mas só 18% da Câmara

• Apesar de as mulheres corresponderem a 52,7% do eleitorado, ainda são minoria em cargos públicos. Em 2023, só 17,9% da Câmara era composta por deputadas federais. Isso colocou o Brasil no 133º lugar entre os países com menor representação feminina, o último colocado da América Latina. Ruanda (61,3%), Cuba (55,7%) e Nicarágua (51,7%) ficaram nas três primeiras posições.

• Só 16,1% das cadeiras de vereadores eram ocupadas por mulheres em 2023. Com relação ao poder executivo local, somente 12,1% das prefeituras, em 2020, data da última eleição, eram ocupadas por mulheres. Dentre as prefeitas, 66,9% eram brancas.

Por Stella Borges
Fonte: noticias.uol.com.br

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