O promotor Douglas Roberto Ribeiro de Magalhães Chegury referiu-se à advogada criminalista Marília Gabriela Gil Brambilla, como pessoa “irônica”, e a chamou de feia.
“Não quero beijo da senhora. Se eu quisesse beijar alguém aqui, eu gostaria de beijar essas moças bonitas, e não a senhora, que é feia”, disse o promotor de justiça.
Ouça áudio gravado durante o julgamento:
Após as falas, houve protestos dos presentes, e o promotor voltou a ofender a advogada. “Mas é óbvio. Só porque eu reconheci aqui que esteticamente… Eu menti? Tecnicamente ela não é uma mulher bonita.”, continuou o promotor.
A advogada pediu pela prisão do promotor. Por deliberação do juiz presidente do júri, Felipe Junqueira d’Ávila Ribeiro, a sessão foi anulada após uma das juradas se retirar do plenário.
“Conforme acima relatado, durante a presente sessão plenária, após discussão entre membro do Ministério Público e uma das advogadas de defesa ao longo dos debates, uma jurada se levantou e se retirou do plenário, afirmando que não queria mais participar”, diz trecho da ata de julgamento do júri.
Promotor critica advogada
Ao Metrópoles Chegury afirma que, para ele, o objetivo da advogada era o de “tumultuar o processo”. “O objetivo da advogada era criar alguma situação que levasse à nulidade do julgamento caso o cliente dela fosse condenado”, disse.
O promotor afirma que se tratava de um júri complexo sobre uma “queima de arquivo”. Segundo ele, a bancada da defesa contava com oito advogados, sendo seis mulheres e dois homens.
De acordo com ele, a advogada foi quem criou a “confusão”. “No decorrer da minha sustentação, ela percebeu que o resultado do julgamento não era aquele que se desejava. Ela me provocou de forma sarcástica com um gesto de beijo. Aquilo me deixou revoltado e eu disse que aceitaria o beijo de qualquer pessoa, menos dela, porque ela é feia”, contou.
O promotor disse ainda que não se considera misógino. “Atuo em uma promotoria que defende mulheres. Ela se coloca na posição de vítima e se esconde atrás do timbre da OAB. Estão tentando me colocar como o algoz, o agressor, quando, na verdade, só o que eu fiz foi me defender da ofensa que eu recebi. Estou muito tranquilo”, finalizou.
Repúdio
Neste sábado (23/3), a Seccional do Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF) divulgou nota de repúdio às declarações do promotor.
“Não há como tolerar esse comportamento. É clara a ofensa à advogada e a violação de prerrogativas. Não aceitaremos qualquer tipo de violência contra a advocacia e, especialmente, contra a mulher advogada, como neste caso”, afirmou o presidente da OAB-DF, Délio Lins e Silva Jr.
“A nossa diretoria e equipes de prerrogativas já estão à disposição da doutora Marília para apoiá-la nas medidas cabíveis em âmbito administrativo e criminal, respeitando-se o devido processo legal, ampla defesa e o contraditório”, acrescentou.
A OAB-GO, por meio de suas comissões de Direitos e Prerrogativas e da Mulher Advogada, também repudiou as declarações.
“Esta conduta viola a ética profissional e é inaceitável. Demonstramos solidariedade à advogada afetada e reafirmamos nosso compromisso com a defesa da dignidade e dos direitos de toda a advocacia, neste caso, especialmente da mulher advogada”, afirma o texto.
A OAB-GO informou que irá agir de modo a assegurar uma investigação criminal e administrativa adequada em relação ao ocorrido e a fomentar um ambiente jurídico de respeito e igualdade. “Reiteramos o empenho da Seccional Goiana em erradicar a discriminação e promover a igualdade de gênero na seara jurídica e na sociedade”, finaliza a nota.
Por Nathália Cardim
Fonte: metropoles.com