A cena foi registrada em vídeo (veja acima) e aconteceu durante uma briga generalizada no Parlamento taiwanês durante votação de uma reforma legislativa apresentada pela oposição.
Na briga, legisladores rodearam o assento do orador. Alguns deles saltaram sobre mesas e puxaram outros deputados para o chão, inclusive mulheres.
A briga acontece ainda às vésperas da posse do presidente do país, Lai Ching-te, que foi eleito em janeiro -- ele é do mesmo partido da gestão anterior, o Partido Democrático Progressista (PDP, na sigla original), contrário à unificação com Pequim e pró-independência.
E a confusão deu uma prévia do que seu governo deve enfrentar no Congresso: Ching-te assumirá sem maioria no Parlamento.
Os deputados do país, também eleitos em janeiro, já assumiram seus cargos.
O principal partido da oposição, o Kuomintang (KMT), tem mais assentos do que o governista PDP. A sigla oposicionista não tem cadeiras o suficiente para formar uma maioria sozinho, mas tem conseguido se aliar ao pequeno Partido Popular de Taiwan para tentar impor sua própria agenda.
A oposição quer dar ao Parlamento mais poderes de decisão sobre o governo, incluindo uma proposta controversa para criminalizar deputados que sejam considerados responsáveis por declarações falsas.
O partido do governo afirma que as duas siglas oposicionistas têm forçado a aprovação das propostas sem o processo de consulta habitual da Casa, no que chamam de “um abuso de poder inconstitucional”.
Não é raro que haja embates, inclusive físicos, no Parlamento de Taiwan. Em 2020, deputados do KMT jogaram tripas de porco no chão da câmara em uma disputa sobre a flexibilização das importações de carne suína dos EUA.
Disputa com Pequim
Taiwan é atualmente um dos territórios mais indefinidos do atual cenário geopolítico mundial - e um dos mais estratégicos para potências mundiais.
Para a China, trata-se de uma província rebelde que segue fazendo parte de seu território. Já para o governo de Taiwan, a ilha é um estado independente, gerido por uma Constituição própria, e por décadas foi considerada o próprio governo chinês, no exílio.
Isso porque os atuais governantes de Taiwan foram os inimigos derrotados pelos comunistas que governam atualmente a China.
Ex-colônia holandesa e controlada pelo Japão até a Segunda Guerra Mundial, a ilha foi tomada pela China em 1945, diante da derrota dos japoneses na guerra.
Após a Segunda Guerra, uma guerra civil começou na China, entre as tropas de Chiang Kai-shek, que eram capitalistas, e as de Mao Tse-tung, comunista.
Em dezembro de 1949, Chiang Kai-shek, derrotado, se refugiou em Taiwan com suas tropas e apoiadores. Lá, o líder nacionalista formou um governo próprio, chamado de China Nacionalista, que ele afirmava ser o verdadeiro governo chinês, e não a República Popular da China, comunista, que havia vencido e governa o país até hoje.
Ao longo das últimas décadas, no entanto, ambas as partes "estacionaram" suas causas: nem Pequim tentou invadir a ilha, nem Taipei seguiu adiante em seus planos de se tornar independente.
Mas essa estratégia mudou recentemente, desde que o atual presidente chinês, Xi Jinping, em busca da reeleição, voltou a endurecer o discurso contra Taiwan e retomou exercícios militares ao redor da ilha no último ano.
A postura coincidiu com a chegada ao poder, nos Estados Unidos, do democrata Joe Biden, que constantemente se manifesta a favor da independência de Taiwan, um assunto que seu antecessor, Donald Trump, quase não tocava.
Hoje, Taiwan, que tem cerca de 23 milhões de habitantes e é localizada na costa leste da China, tenta ser uma economia vibrante e moderna, mas esbarra nas pressões de Pequim.
Isso porque o governo chinês, além de aumentar os exercícios e provocações militares perto da ilha, também faz forte pressão para isolá-la do mundo: Pequim condiciona suas operações e relações com qualquer parceiro comercial à exclusão de qualquer tipo de vínculo com Taiwan, principalmente o reconhecimento da ilha como independente.
O atual governo de Taiwan tem tido mais interesse em evitar uma invasão de Pequim do que na independência da ilha. Mas, diante do aumento das tensões militares com a China, Taipei tem reafirmado que está pronta para se defender, caso seja invadida.
Fonte: g1