“Sedutor de idosas”: g0lp3 do amor viraliza na web. Advogado alerta

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Via @metropoles | Solidão. Baixa autoestima. Vulnerabilidade. Sentimentos negativos unidos à engenhosidade de estelionatários têm sido a união perfeita para levar idosas ao abismo.

Nas últimas semanas, uma série de relatos de familiares que flagraram mulheres da terceira idade com comportamentos fora do comum e descobriram crimes de estelionato tomaram conta das redes sociais.

São inúmeros vídeos de jovens mostrando as avós apaixonadas por um suposto homem que faz vídeos para a internet. Por trás dos perfis mais conhecidos estão José Fernandes e Zinho Claudino — ambos com cerca de 630 mil seguidores.

Os influenciadores digitais publicam vídeos elogiando diretamente quem os assiste. Eles dublam músicas sertanejas antigas e recitam poesias e frases românticas. Para quem está acostumado com o meio virtual, é nítido que o conteúdo não passa de uma mera brincadeira. O público alvo dos criadores de conteúdo, porém, composto por mulheres maiores de 60 anos, não consegue identificar o personagem e acreditam estar em um relacionamento com os homens.

O que antes era apenas uma distração saudável virou caso de polícia. Nesta semana, José Fernandes publicou um vídeo em que revela que foi à delegacia para registrar um boletim de ocorrência. Isso porque foi constatado que criminosos estão se passando pelo homem para pedir dinheiro às idosas.

A suposta quadrilha por trás dos golpes cria perfis falsos e reproduz o conteúdo publicado pelos homens. Eles averiguam as seguidoras e, após estabelecer um laço, induzem as vítimas a fazerem transferências e mandarem fotos e dados de seus cartões de crédito.

Levadas pelo sentimentos, as mulheres que recebem as mensagens dos golpistas têm enviado os valores sem pensar duas vezes.

“Nunca pedi nada para seguidor nenhum. Quem me acompanha desde o início sabe que sou uma pessoa de respeito e caráter. Quero avisar vocês sobre perfis fakes criados com minhas postagens. Tem gente enviando mensagens a vocês para pedir alguma coisa; fiquem atentos, bloqueiem, não mandem nada”, alertou.

Ainda que José tenha explicado a situação, nos comentários, as seguidoras respondem com declarações, aparentemente ignorando a principal mensagem: “Meu futuro esposo. Eu te amo muito”, escrevem.

Em outro comentário, uma seguidora confirma a farsa. “Eu sigo você, aí me mandaram mensagem me pedindo os números e fotos do meu cartão”, expôs.

Perigo

Para abordar o golpe, a coluna conversou com Rodolfo Tamanaha, advogado e professor de direito da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília (FMPB).

“O estelionato está previsto no Código Penal, que é quando você induz uma pessoa a erro para obter algum benefício econômico. Um ponto importante é que o estelionato eletrônico, ou seja, quando praticado por meio das redes sociais, tem uma penalização maior. O estelionato, de forma geral, resulta em pena de um a cinco anos e, no caso da fraude eletrônica, a pena de reclusão vai de quatro a oito anos”, explicou.

Segundo o especialista, quando o estelionato é praticado contra pessoas maiores de 70 anos, não há necessidade de representação de ação por parte da vítima para que o Ministério Público aja. “Nos demais casos, o MP só pode representar uma ação contra o estelionatário se houver um pedido da vítima ou das vítimas. E se não houver, então o MP não poderia propor por vontade própria.”

O advogado apontou que, nesse caso, não dá para culpar os influenciadores pelas ações dos criminosos. O influenciador não é responsável. A gente pode ver que, inclusive, ele é uma vítima, porque estão usando a imagem dele para aplicar os golpes”, sinalizou.

“O que nós temos, hoje, é uma discussão a respeito da responsabilidade da plataforma, tema que está sendo discutido, inclusive, no Supremo Tribunal Federal (STF), porque, de acordo com o marco civil da internet, as plataformas só são responsáveis por uma situação como essa quando elas são intimadas por uma decisão judicial, e não cumprem”, disse.

Tamanaha apontou que, numa situação como essa, teria de ser feita uma notificação para a plataforma e, caso ela não se manifestasse, fosse proposta uma ação judicial para só então conseguir uma responsabilização. “Não é algo simples”, apontou.

Como dicas, o especialista recomendou que, não só os idosos, mas todos os usuários das plataformas, não façam nenhum tipo de transação financeira com base em informações das redes sociais.

“Os bancos não fazem esse tipo de solicitação pelas redes sociais e também não é um procedimento usual que pessoas públicas façam isso. Quando eles (famosos) vão vender algum curso ou qualquer outra coisa que envolva transação financeiras, eles usam plataformas de meio de pagamento”, alertou.

Por Letícia Guedes
Fonte: metropoles.com

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