O empresário, agora réu, deve responder pelos crimes de homicídio triplamente qualificado, por ter sido cometido por motivo fútil, em via pública e com uso de arma ilegal, além de praticado após uma ameaça.
A juíza ainda acolheu o pedido do MP e determinou o desmembramento do processo em relação à delegada Ana Paula Lamego. Ela havia sido indiciada pela prática dos crimes de porte ilegal de arma de fogo, na modalidade ceder/emprestar e por prevaricação.
O processo da delegada agora será enviado para uma das varas criminais de Belo Horizonte. Como os crimes dos quais ela é acusada têm penas mínimas de até quatro anos, sem violência ou ameaça, ela pode, em tese, ser elegível para um Acordo de Não Persecução Penal.
No dia da prisão, o suspeito chegou a negar à polícia ter cometido o crime. No boletim de ocorrência registrado pela Polícia Civil, no entanto, consta a informação de que ele afirmou que a arma é de sua mulher.
"Relatou que a arma de fogo utilizada no crime estaria em nome de sua esposa", diz boletim de ocorrência registrado pela Polícia Civil às 17h40 de 11 de agosto. Em entrevista coletiva, a polícia disse investigar que arma foi usada para matar o gari.
O exame de balística confirmou que a arma usada no assassinato do trabalhador era da delegada. O laudo foi produzido pela perícia da Polícia Civil de Minas Gerais. A arma é de uso pessoal dela.
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Infográfico mostra principais pontos do assassinato do gari Laudemir Fernandes pelo empresário Renê Júnior, que confessou o crime — Foto: Arte/g1 |
'Não houve briga'
O assassinato do gari Laudemir de Souza Fernandes, de 44 anos, chocou colegas de trabalho e moradores da região. Segundo o relato dos colegas que estavam com ele, não houve discussão que justificasse a violência.
O carro de Renê surgiu em sentido contrário da via e não havia espaço para passagem. Nervoso, o motorista teria parado o veículo ao lado do caminhão já com a arma em punho.
"Não teve discussão para ele ter uma atitude de querer se defender e atirar", relatou a motorista do caminhão de coleta Eledias Aparecida Rodrigues.
“Apontou pra mim falando que se eu esbarrasse, ele iria me dar um tiro na cara”. Pouco depois, Renê teria feito uma manobra na arma, derrubado o carregador, recolocado e, em seguida, atirado contra Laudemir.
O empresário Renê da Silva Nogueira Júnior, de 47 anos, foi o autor do disparo que atingiu o abdômen de Laudemir.
“Ali, ele foi desfalecendo", contou Eledias. "Eu ajoelhei no chão, pedi: ‘Jesus, não deixa ele morrer’”, contou um dos colegas, que ainda conseguiu registrar em vídeo o momento em que o suspeito descia a rua após o crime. Para eles, a execução foi fria e sem qualquer razão: “Não teve discussão para ele querer se defender, isso não existe. Uma pessoa inocente morrer por coisa que não tem cabimento”.
Laudemir chegou a ser levado a um hospital, mas não resistiu. O caso gerou grande comoção, especialmente no enterro do gari. Familiares e amigos lembraram que ele era companheiro dedicado em casa e gostava de trabalhar. O crime também reforçou a indignação da categoria, que diariamente enfrenta riscos nas ruas.
O empresário Renê Júnior foi preso após ser reconhecido pelas testemunhas. Ele deve responder por homicídio duplamente qualificado, porte de arma de fogo e ameaça.
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Laudemir de Souza Fernandes foi morto quanto trabalhava na coleta de lixo — Foto: Arquivo pessoal |
Por g1 Minas — Belo Horizonte
Fonte: g1