Para a mãe da criança, a historiadora Kelly Cristina da Silva, e o pai, o sociólogo Fábio Rodrigo Vicente Tavares, a escolha do nome é um ato político de reafricanização e resistência à colonização (entenda mais abaixo).
De acordo com Fábio, a tentativa de registro foi feita dois dias depois do nascimento da criança, no Hospital Sofia Feldman, que possui uma extensão do Cartório de Venda Nova, em BH. No local, o nome foi recusado sob a alegação de que Mboup seria um sobrenome, e não um segundo nome composto.
Após a negativa, Fábio seguiu a orientação da atendente e procurou outro cartório, no Terceiro Subdistrito, no Centro da capital mineira. Ele entrou com uma solicitação judicial para autorização do registro e aguarda resposta até o dia 2 de outubro.
O g1 entrou em contato com o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, mas até a última atualização desta reportagem não havia obtido resposta.
Sem licenças nem atendimento em posto de saúde
A situação tem gerado constrangimento e prejuízos burocráticos para a família.
“A gente precisa da certidão para acessar serviços básicos. Sem ela, não conseguimos licença paternidade, licença maternidade, nem atendimento no posto de saúde”, disse.
A escolha e o significado do nome
Para Fábio, o nome escolhido por ele e pela companheira carrega significados profundos ligados à ancestralidade africana e à resistência contra a colonização.
O casal vive no Brasil e considera o nome uma forma de preservar a origem e a identidade da criança desde o nascimento.
“O processo de colonização começa tirando o nome da pessoa, para que ela perca sua origem e identidade. Então, dar um nome africano é o primeiro passo para reafricanizar”, afirma o pai.
Tumi, nome escolhido pela mãe, representa lealdade. Mboup, proposto pelo pai, é um sobrenome comum no Senegal. De acordo com ele, é uma homenagem ao intelectual senegalês Cheikh Anta Diop, autor de A Unidade Cultural África Negra.
Sociólogo, Fábio reforça que Mboup, sobrenome comum entre falantes do idioma africano wolof, é usado em mais de 30 países. Para o casal, o nome é também uma forma de "localização mental".
"Queremos que, ao olhar para nós, Tumi Mboup saiba que nossa origem é África. E não falo de uma questão meramente afetiva. O nome é uma questão política, tanto para mim quanto para Kelly, que é uma historiadora e que que estuda as questões raciais. Então, não tem como a gente, nesta altura do campeonato, aceitar o processo colonizador. Aí não dá", desabafou.
Por Camila Falabela, g1 Minas — Belo Horizonte
Fonte: g1