Em um julgamento que se arrastou por meses, Hasina foi considerada culpada por ordenar uma violenta repressão a manifestações de estudantes no ano passado.
"Todos os elementos constitutivos de um crime contra a humanidade estão reunidos. Decidimos impor uma única pena, a pena de morte", declarou o juiz Golam Mortuza Mozumder, do Tribunal bangladense de Crimes Internacionais.
A sentença se deu mais de um ano após estudantes terem protagonizado protestos contra um sistema de cotas do governo que privilegiava veteranos de guerra em detrimento da população.
O movimento da Geração Z, entre julho e agosto de 2024, foi duramente reprimido pelo governo: mais de mil morreram e milhares ficaram feridos, segundo a ONU (leia mais abaixo).
O tribunal, localizado na capital Daca e que julga crimes de guerra em Bangladesh, anunciou o veredito sob forte esquema de segurança e na ausência de Hasina, que fugiu para a Índia em agosto de 2024. Ela pode recorrer da sentença à Suprema Corte do país.
Após a divulgação da sentença, o governo bangladense pediu à Índia que extradite Hasina.
Ex-premiê critica condenação
Em resposta, Hasina afirmou que a sentença é "enviesada e com motivação política" e questionou a isonomia do tribunal que a julgou. Ela defendeu que seu governo "perdeu o controle da situação" durante o levante estudantil, porém "não é possível caracterizar o que ocorreu como um ataque premeditado contra cidadãos".
A ex-premiê disse também que não teve acesso à ampla defesa e que pretende "enfrentar meus acusadores em um tribunal adequado, onde as provas possam ser avaliadas e examinadas de forma justa".
Hasina foi representada no julgamento por um defensor público nomeado pelo Estado, que afirmou ao tribunal que as acusações eram infundadas e pediu a absolvição da ex-premiê.
A decisão ocorre meses antes das eleições parlamentares, previstas para fevereiro. O partido de Hasina, a Liga Awami, foi impedido de concorrer, e teme-se que o veredito desta segunda possa alimentar novas revoltas populares antes da votação.
Antes do anúncio do veredito, Sajeeb Wazed, filho e assessor de Hasina, disse à agência de notícias Reuters que eles não recorreriam da sentença a menos que um governo democraticamente eleito assumisse o poder com a participação da Liga Awami.
Hasina, de 78 anos, assumiu como primeira-ministra em 2009. Considerada uma das mulheres mais poderosas da Ásia, ela foi creditada como a responsável por impulsionar a indústria têxtil no país.
Ela é filha do líder fundador de Bangladesh, Sheikh Mujibur Rahman, que lutou na guerra de independência.
Hasina inicialmente lutou pela democracia, mas seu longo governo como primeira-ministra passou a ser marcado por prisões de líderes da oposição, repressão à liberdade de expressão e execuções extrajudiciais.
Desde a fuga de Hasina para a Índia, Bangladesh tem sido governado por uma administração interina liderada pelo vencedor do Nobel da Paz Muhammad Yunus. Ele foi atacado por anos por Hasina e condenado por corrupção sob o governo dela.
Maior violência desde a independência
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| Homem ensanguentado em meio aos protestos em Bangladesh — Foto: REUTERS/Anik Rahman |
A principal motivação dos protestos estudantis em 2024, que tomaram as ruas de Bangladesh, foi um sistema de cotas do governo que estabelecia que um terço dos empregos governamentais seriam reservados para parentes de veteranos da guerra de independência do país contra o Paquistão em 1971.
Durante o julgamento, os promotores informaram ao tribunal que haviam encontrado evidências de uma ordem direta de Hasina para usar força letal na repressão aos protestos.
Até 1.400 pessoas podem ter sido mortas durante os protestos, entre 15 de julho e 5 de agosto de 2024, e milhares ficaram feridos, a maioria por disparos das forças de segurança, segundo um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU).
A repressão aos protestos causou o maior episódio de violência em Bangladesh desde a guerra de independência, em 1971.
Por Redação g1 — São Paulo
Fonte: g1

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