Maioria da advocacia é contra cotas raciais e de gênero em escritórios, diz pesquisa

A maioria dos advogados e advogadas do país é contra a implantação de cotas raciais e de gênero dentro dos escritórios. Essa foi a conclusão alcançada por uma pesquisa do Datafolha, divulgada pela Folha de S.Paulo nesta terça-feira (22/6).

Quanto às cotas raciais, apenas 40% dos profissionais consultados foram favoráveis, contra 58% contrários.

Já em relação às cotas de gênero a oposição foi ainda maior, com 61% dos entrevistados contra à reserva de vagas para mulheres na direção, enquanto somente 36% concordam.

Cotas Raciais

Entre os entrevistados brancos, 62% são contra a adoção de cotas raciais; já entre as pessoas negras 51% não concordam e 48% defendem a medida, ficando a diferença dentro da margem de erro (seis pontos percentuais).

A pesquisa também diferenciou os resultados de acordo com o espectro político dos entrevistados. Entre os autodeclarados de esquerda, 62% aprovam a promoção de ações afirmativas de inclusão de pessoas negras em cargos de liderança, contra 38%. Mas, para aqueles que se posicionam à direita, o índice de contrariedade chegou no patamar de 85%.

Pela faixa etária, entre aqueles que têm de 18 a 34 anos, o apoio à cota foi de 53%, ante 46% que a desaprovam. Esse foi o único grupo etário no qual os entrevistados favoráveis à medida formaram uma maioria. No segmento daqueles com 45 anos ou mais, 72% manifestaram contrariedade à adoção do sistema.

Por regiões do país, entre os moradores do Nordeste houve empate, com 50% para cada lado. No Sul, o percentual dos opositores à fixação de cotas atingiu 68%.

A equidade racial em escritórios de advocacia já foi alvo de pesquisas no passado e foi revelado que o problema da falta de equidade não está só em cargos de liderança. Censo de 2018 feito pelo Ceert (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades), em nove grandes escritórios do país, revelou que advogados e advogadas negras não chegavam a compor 1% do total de funcionários.

Cotas de gênero

O recorte do Datafolha revelou que entre as próprias mulheres 56% disseram ser contra a implementação de cotas, e 41%, favoráveis. Já entre os homens a oposição foi de 66%, e 31% de aprovação.

Entre os advogados que se consideram de esquerda, concordaram com o regime de cotas 56% dos ouvidos. Porém, entre aqueles que se declararam como de direita, há altíssima oposição à medida, sendo 88% deles contrários às cotas, e apenas 8% favoráveis.

Mais uma vez, apenas no grupo dos mais jovens, entre 18 e 34 anos, a pesquisa mostrou uma apertada vantagem numérica pela aprovação das cotas (50% a 49%). Por outro lado, aqueles com 45 anos ou mais, em 73% dos casos foram contra a promoção da política de cotas de gênero.

Em pesquisa de 2014 da professora de direito da Universidade Mackenzie, Patricia Bertolin, dos dez grandes escritórios que integraram a pesquisa, em oito verificou-se que as mulheres são maioria na base, mas vão desaparecendo em posições do topo da carreira.

O anuário jurídico "Análise Advocacia", que envolve centenas de escritórios de todo país, confirma esse cenário: a média de mulheres sócias dos escritórios ranqueados pela publicação manteve-se, desde 2006, em 28% e, apenas em 2020 apresentou ligeiro aumento, chegando a 30%. Já entre os advogados associados, que estão nos escalões inferiores, há maioria de mulheres desde 2009.

A pesquisa do Datafolha foi feita por telefone, entre 26 de fevereiro e 8 de março, e contou com a participação de 303 advogados, das cinco regiões do país.

Fonte: ConJur

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