OAB aponta crime em espetáculo em que artista fica nu e derrama sangue em cruz

goo.gl/ko22YD | A Ordem dos Advogados do Brasil do Ceará (OAB-CE) emitiu nota oficial, para avaliar que o artista cearense Ari Areia “excedeu o seu direito constitucional à livre manifestação de pensamento e expressão” ao interpretar a peça “Histórias Compartilhadas”, na Universidade Federal do Ceará (UFC), no último mês de maio.

No texto, divulgado a OAB ressalta que preza pelo pluralismo de ideias e pela liberdade de expressão, mas repudia o “excesso”. “A bandeira levantada pelo ator é pertinente e merece respeito, porém para ilustrar e contextualizar suas ideias ele certamente pode usar outros personagens históricos. Areia assumiu o risco de sua conduta incorrer em crime previsto no Artigo 208 do Código Penal: vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso“, relata trecho da nota.

Limite da lei

Ainda conforme a instituição, a UFC deve apoiar o debate entre os estudante, mas dentro dos limites estabelecidos por lei. “A universidade como ambiente de nascedouro, proliferação e discussão de ideias, pode e deve apoiar todos e qualquer debate, mas dentro dos limites estabelecidos na legislação brasileira. A OAB tem o papel institucional de fiscalizar medidas para assegurar um ambiente diversificado e respeitoso além de promover cidadania, bem como reparar danos provocados por eventuais infrações legais”, destaca o texto.

Além disso, a entidade entrou com uma representação no Ministério Público solicitando investigação da peça.

Entenda o caso

A polêmica se espalhou nas redes sociais após o ator apresentar o monólogo durante o 1º Seminário Conversas Empoderadas e Despudoradas sobre Gênero, Sexualidade e Subjetividades, realizada no dia 17 de maio pelo Núcleo de Pesquisas sobre Sexualidade, Gênero e Subjetividade (NUSS) do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFC.

No dia 23 de maio, o artista cearense foi alvo de várias críticas e ameaças de morte em redes sociais após fotografias de sua apresentação artística circularem na internet. Durante a peça, Ari Areia exibe seu corpo nu e derrama o próprio sangue sobre um crucifixo. Na página no Facebook ‘Fortaleza Sem Prefeito’, várias pessoas relatam a falta de respeito com a religião. “Vão dizer novamente que é arte? Respeito, isso é o que falta. Não há explicação para tamanha sem-vergonhice”, diz a mensagem na página.

Nas fotos compartilhadas, é possível perceber que o ator fica nu e cobre o órgão sexual com uma espécie de adesivo branco. Logo após, Ari perfura um dos braços e derrama pingos de sangue em cima de uma estatueta que simboliza a crucificação de Cristo. Segundo Ari, diversas ameaças e xingamentos foram relatadas em seu nome e explicou que o ato artístico se trata da vida do transsexual na sociedade.

Em repúdio, o artista afirmou que a apresentação está longe de ser uma afronta a religião de quem quer que seja e que, na verdade, foi a maneira mais objetiva que encontrou para desenhar o que queria dizer sobre incompreensão da sociedade ao gênero.

“Gostaria de explicar que esse espetáculo não foi construído com recurso público federal, estadual ou municipal. Gostaria também de repudiar toda sorte de intimidações a mim direcionadas e dizer que não nos curvaremos diante disto, continuaremos com nosso trabalho e militância dentro e fora dos palco“, disse. Após a polêmica, Ari registrou um Boletim de Ocorrência em relação às ameaças de morte que recebeu em seu perfil pessoal no Facebook.

UFC defende artista

Em nota encaminhada à imprensa, a instituição de ensino afirmou que defende a convivência entre as posições religiosas, políticas, filosóficas e científicas na universidade e na sociedade.

Confira a nota:
Ao ser apresentado fora do contexto da encenação e manipulado em redes sociais, um evento simples, rico em significados, academicamente validado, foi transformado por alguns em “desrespeito” e denunciado como “crime”. A administração superior da UFC, ao tomar conhecimento da repercussão do fato, foi apurá-lo e, como conclusão, constatou tratar-se de um seminário acadêmico, com acesso restrito a participantes inscritos e, portanto, motivados a discutir sobre a temática proposta, sem qualquer conotação desrespeitosa e muito menos criminosa. A UFC continuará defendendo o profundo respeito às manifestações e aos símbolos religiosos dentro e fora da Universidade e jamais admitiria o contrário, diz trecho da nota.
Por Matheus Ribeiro
Fonte: tribunadoceara uol 

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