Policiais militares atiram em carro de promotor de Justiça que fugiu de suposta blitz

Um blitz policial, com homens armados, sem farda. Um motorista assustado que foge. Um automóvel alvo de tiros. Desta vez ocorreu no interior do Piauí. Policiais Militares do 4º Batalhão da PM estadual atiraram contra o carro do promotor de Justiça Eduardo Palácio Rocha durante uma suposta blitz realizada no povoado de Torrões, no município de Picos, região sul do Estado. A abordagem ocorreu na noite da última quarta-feira (20), quando o promotor procurava um restaurante para jantar.

Segundo Rocha, os PMs não estavam fardados e nem usavam carro com identificação da polícia. "Achei que se tratava de um assalto e saí em velocidade para pedir ajuda na delegacia regional de Picos, mas a porta estava fechada."

Em seguida, ele contou que se dirigiu ao fórum da cidade, onde sabia que havia policiais de plantão no prédio. No percurso, os PMs atiraram por duas vezes contra o carro do promotor.

Em entrevista ao UOL, Eduardo Rocha contou a aflição que passou com a abordagem sem identificação dos policiais. Recém-chegado à cidade, o promotor afirmou que se perdeu ao procurar um restaurante e passou por duas vezes à frente de um carro da PM. "Em nenhum momento, os policiais pediram que eu parasse o veículo."

O promotor afirmou que nada indicava que havia uma blitz no local. "Não tinha cone, nenhuma sinalização. Segui meu caminho. Logo depois, quando estava estacionando o carro, um Gol branco, sem identificação, parou e desceu um homem com uma arma. Se parasse um carro descaracterizado e descesse um cara armado, sem farda ou identificação da polícia, qualquer pessoa fosse abordada daquela forma iria achar que era um assalto."

Ele negou que tenha furado a blitz, como os policiais alegaram a ele para justificar a perseguição. Rocha diz que conseguiu fugir e conseguir auxílio no fórum da cidade, mesmo tendo um dos pneus do carro furado.

"No começo pensei que era assalto. Tentei desviar. Quando percebi que estava sendo perseguido pelo carro branco, pensei: 'vieram para me matar, ou estão me confundindo com alguém ou é alguma coisa da minha comarca anterior, que eu nem estou lembrado", contou o promotor.

Rocha foi transferido da comarca de Bom Jesus para Picos, onde chegou no último domingo (17) para trabalhar na segunda-feira (18). O caso foi registrado na Delegacia Regional de Picos, onde foi aberto inquérito policial. As armas usadas pelos policiais foram apreendidas para perícia. O carro do promotor também foi analisado para verificar se o pneu furado foi atingido pelos tiros. A polícia tem 30 dias para concluir o inquérito.

Balas de borracha

O 4º Batalhão da PM informou, na noite desta sexta-feira (22), que os policiais usaram balas de borracha para atirar contra o carro do promotor. Em nota, a PM justificou que a perseguição ocorreu porque Rocha teria furado uma blitz.

Sobre a abordagem ao promotor feita em um veículo descaracterizado e com policiais militares à paisana, o comando do batalhão, em nota, explicou que a equipe estava investigando uma denúncia de uma onda de roubo de veículos na região.

De acordo com o artigo 144 da Constituição Federal, que trata sobre segurança pública, a apuração de infrações penais e de polícia judiciária é função de policiais civis, que desenvolvem suas funções sem fardamento. A atuação de policiais militares em investigações, e sem uniforme, não é permitido.

O Comando Geral da Polícia Militar do Piauí informou que a corregedoria da corporação instaurou processo administrativo para apurar o ocorrido e esclarecer os fatos para que sejam adotadas as medidas necessárias.

A APMP (Associação Piauiense do Ministério Público) informou em nota que prestou auxílio ao promotor e acionou o procurador-geral de Justiça, Cleandro Moura, para "resguardar a integridade física do promotor de Justiça". A associação também informou que contatou o secretário estadual de Segurança, Fábio Abreu, para cobrar apuração do ocorrido.

Por Aliny Gama
Fonte: noticias uol

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